30 outubro 2011

Nem tudo que vai pro lixo é lixo

http://www.canalazultv.com.br/redeambiente/reciclagem.asp


Por Daniel de Granville

Alguma vez você já jogou dinheiro no lixo? Provavelmente não, ou pelo menos não conscientemente. No entanto, todos os dias, indiretamente, nós descartamos algo que tem valor: a caixinha do leite, o saco plástico do arroz, o invólucro que protege o estojo do DVD, a embalagem de papelão do celular novo, até mesmo o celular velho. Nossa sociedade baseada no consumo estimula a aquisição e o descarte cada vez mais rápido daquilo que compramos. Porém, como todas as coisas que valem alguma coisa, devemos tratar estes produtos como eles merecem.

Dependendo da sua idade, certamente se lembra – por experiência própria ou pelas histórias contadas por seus pais e avós – dos tempos em que os “aparelhos duravam mais” (apesar de mais caros), que as bebidas eram acondicionadas em garrafas de vidro retornáveis, que o armazém vendia produtos a granel e não em embalagens fechadas.

Hoje é tudo mais fácil e prático. Porém, paga-se um preço por isto. Embutido no valor que pagamos por qualquer produto, está incluído o custo da embalagem, que às vezes pode ser mais alto do que o próprio produto que ela acondiciona. Mas não é apenas este preço real e palpável que devemos considerar. Há também o custo ambiental – o impacto que o descarte destes materiais pode causar sobre os ambientes naturais, algo geralmente difícil de quantificar.

Os esforços no sentido de solucionar ou minimizar tais impactos baseiam-se em um conceito denominado “3Rs”, que indica as etapas no processo de destinação inteligente dos descartes: “Reduzir”, “Reutilizar”, “Reciclar”. Segundo este conceito, a primeira medida a ser adotada é a redução na quantidade de resíduos que produzimos. Por exemplo, dando preferência para produtos com menos embalagens ou aqueles que vêm em recipientes retornáveis. A seguir vem a reutilização, ou seja, reaproveitar o que seria descartado, dando ao material uma nova utilidade. É o caso de irrigadores de jardim, aquecedores solares e muitos outros produtos feitos com garrafas PET. Em último lugar na sequência vem a reciclagem propriamente dita: produtos que não puderam ser evitados e nem reaproveitados seguem para serem reprocessados, como as latinhas de alumínio, o papelão, o vidro e similares.

Dentro deste sistema, pessoas que vivem de coletar tais itens e os deixar prontos para serem submetidos aos processos industriais de reciclagem têm um papel de extrema importância. São os catadores de materiais recicláveis, trabalhadores autônomos que até pouco tempo atrás eram esquecidos e até desprezados pela sociedade. De olho na questão, projetos voltados a estes profissionais – como o Guardiões do Mar (RJ), a Rede Cata-Bahia (BA), a Rede Cata Sampa e a Reciclamp (SP) – estão conseguindo transformar a realidade destas pessoas ao mesmo tempo em que dão uma destinação mais adequada aos resíduos que todos produzimos.

Graças a tais iniciativas, a informalidade vem dando espaço a cooperativas onde estes profissionais se organizam, tornam-se mais eficientes e conseguem um ganho maior, com melhores condições de trabalho e uma qualidade de vida mais digna. Além disto, através de ações de qualificação profissional, os catadores estão gradualmente aprendendo a processar os materiais na segunda etapa dos 3Rs – o reaproveitamento – , confeccionando itens como sofás, bolsas, artesanatos e brindes corporativos a partir do que anteriormente ia para o “lixão” das cidades.

Ainda há um longo caminho a percorrer. As cidades precisam efetivamente aderir aos processos de coleta seletiva e descarte apropriado do que é recolhido pelos caminhões de coleta, a população precisa contribuir através da adoção de rotinas simples no seu dia-a- dia (como separar adequadamente o lixo e descartes que produz), a indústria tem que assumir suas responsabilidades e o consumidor em geral precisa dar o exemplo na hora de optar por este ou aquele produto.

Um passo importante neste sentido foi dado em agosto passado, com a aprovação pelo Senado da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Foram 19 anos tramitando no Congresso Nacional, mas finalmente temos uma legislação com nome e número (Lei Nº 12.305/2010) que trata do assunto. Entre outras atribuições, a Lei determina que União, Estados e Municípios planejem, estabeleçam metas e criem programas relacionados à destinação de tais rejeitos, além de atribuir às indústrias uma parcela maior da responsabilidade sobre o destino de seus produtos após o descarte, como no exemplo dos equipamentos eletrônicos, baterias e pneus. Os catadores e suas cooperativas já estavam colaborando, e agora virou lei. Cabe ao restante da sociedade fazer a sua parte para garantir um futuro mais sustentável, entendendo e dando o devido valor ao que descartamos diariamente.