Ontem recebi uma ligação da Mari (assessora de comunicação da equipe de apoio à Relatoria), que está passando uns dias no Recife, visitando a família. Ela queria me contar uma notícia bem estranha que ela ouviu por lá. De acordo com o que ela me disse, o Clube Náutico pretende realizar um meganegócio imobiliário envolvendo sua sede, localizada no bairro nobre dos Aflitos. Depois ela me enviou algumas matérias que saíram na imprensa local sobre o assunto, mas a leitura não deixa claro qual será exatamente esse negócio.
Alguns jornais falam em venda ou arrendamento do terreno (exceto o prédio principal, porque é tombado), que vale cerca de R$ 200 milhões, e inclui o estádio, as piscinas, as quadras e o estacionamento. Outros falam em permuta: a construtora escolhida pelo clube construiria quatro ou cinco megaempreendimentos de alto padrão (residenciais ou comerciais) no local e o Náutico ficaria com uma porcentagem do negócio como renda mensal. O clube usaria a verba arrecadada inicialmente para saldar suas dívidas e reformar seu centro de treinamento no bairro da Guabiraba, transformando-o num clube como o dos Aflitos.
A Mari me pareceu bem triste com a notícia. Para ela, que além de ser alvirrubra, nasceu e cresceu nos Aflitos, o clube faz parte da história e da paisagem do bairro, de seus moradores e frequentadores. Além disso, ela questiona a capacidade da região – que já tem um trânsito muito saturado – de absorver novos grandes empreendimentos imobiliários.
O Movimento de Transparência Alvirrubra – um grupo organizado de torcedores – também tem críticas. Eles divulgaram uma nota, criticando a condução do processo e recordando que, em épocas passadas, outros patrimônios foram vendidos de forma descuidada e não resolveram os problemas do clube. O que me chama a atenção nisso é tudo é ver, mais uma vez, como um megaevento como a Copa serve de ocasião para a realização de tantos grandes projetos imobiliários.
Mas o que o Náutico fará ou deixará de fazer com o seu patrimônio é o que menos importa nessa história toda – contanto que as questões urbanísticas sejam observadas, claro. O fato é que as negociações em torno da sede dos Aflitos envolvem também negociações com o consórcio que está construindo a Arena da Copa, em São Lourenço da Mata, e o governo do Estado.
Pelo que entendi, como perderá seu estádio, o Náutico receberá incentivos financeiros para realizar todos os seus jogos na Arena da Copa. Mas não está claro quem desembolsará esses recursos: se será o consórcio, o governo do Estado, ou ambos. Essa é uma questão que precisa ser realmente esclarecida, já que o destino do dinheiro público não é interesse apenas de uma torcida, mas de toda a população.
