10 dezembro 2011

Estação móvel para tratamento de esgoto


Companhia de Saneamento de Minas desenvolve ETE modular para atendimento a populações com até 4 mil habitantes


divulgação: Copasa
Unidade móvel de tratamento de esgoto instalada em Minas Gerais
Em busca de agilidade para o tratamento de esgotos nas comunidades de pequeno porte e para minimizar a situação de contingência de poluições localizadas, a Companhia de Sa­­neamento de Minas Gerais (Copasa) desenvolveu uma Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) móvel.

O investimento para pesquisa e construção de três conjuntos de exemplares demandou R$ 4,4 milhões, mas a companhia entende que o valor pode ser reduzido pelo uso de novas tecnologias e de materiais que acelerarão a construção e montagem de novos conjuntos.

Por hora, a Copasa mantém em operação dois conjuntos de ETEs móveis na ETE Jardim Canadá, em Nova Lima (MG), local onde estão sendo realizadas obras de ampliação e adequação da estação de tratamento de esgotos existente. Os equipamentos estão em funcionamento desde outubro de 2010. O terceiro conjunto está previsto para ser instalado na ETE de Santana da Vargem.

Além de locais onde ainda não existe estação de tratamento de esgotos, a Copasa pretende utilizar as unidades móveis para educação da população (ETE Escola), treinamento de pessoal e durante a manutenção de outras ETEs. A estação também pode ser utilizada em casos de demandas emergenciais - calamidade pública -, tratamento de esgotos de mineradoras e em empreendimentos industriais e comerciais com prazo delimitado.

A legislação ambiental vigente em Minas Gerais permite que ETEs com vazão de até 50 litros por segundo sejam passíveis de licenciamento ambiental convencional. O mesmo se aplica às ETEs Móveis, devendo apenas ser obtida junto aos órgãos ambientais, a Autorização Ambiental de Funcionamento (AAF) para sua posterior regularização.

O prazo de construção também é rápido. Novas ETE's móveis podem ser instaladas e operadas num prazo máximo de cinco meses: três meses para construção e mais dois meses - necessários para adaptação do local que irá recebê-la - para início operacional. Já uma ETE tradicional, utilizando processos anaeróbios convencionais, requer pelo menos um ano e meio para ser projetada, licitada, construída e entrar em operação. Daí o valor da novidade.

"Podemos iniciar o tratamento de esgoto em áreas onde obtivemos a concessão de forma muito mais rápida e diminuir, por exemplo, o tempo de despoluição de rios e córregos", explica Carlos Alberto Leite Soares, analista máster da Copasa e um dos responsáveis pela iniciativa.

fotos: divulgação Copasa
Unidade móvel tem capacidade de vazão média de 3,47 l/s

fotos: divulgação Copasa

Como funciona

A unidade móvel consiste em duas carretas sobre rodas movidas por dois cavalos mecânicos que juntas permitem o tratamento de esgoto de populações com até 4 mil habitantes, e vazão média de 3,47 l/s. O tratamento preliminar é todo coberto visando minimizar a produção e exalação de gases odorantes.

Na primeira carreta - projetada e estruturada em aço SAC 350 protegido interna e externamente com pintura especial - é realizado o tratamento preliminar dos esgotos seguido de tratamento anaeróbico utilizando reator UASB. Na segunda carreta estão instalados os leitos de secagem.

Um sistema elevatório com capacidade de elevar entre 6 m e 8 m de altura uma vazão entre 2,7 l/s e 5,5 l/s, respectivamente, permite o bombeamento do esgoto para dentro do sistema.

O esgoto passa então por um tratamento preliminar para remoção de sólidos grosseiros e areia. Em seguida, a vazão é medida em uma calha parshall e o esgoto é introduzido através de oito tubos de três polegadas para o interior de um reator UASB, onde ocorre a decantação do líquido e a sedimentação dos sólidos. Um processo dimensionado para um tempo de detenção de oito horas para a vazão média de 3,47 l/s.

O lodo sedimentado passa por um processo de digestão, para posteriormente ser enviado periodicamente para os leitos de secagem, instalados na outra carreta. O resíduo final é aterrado na área da ETE Móvel. Já o biogás produzido neste processo é coletado, medido, transportado e queimado em área a 20 m das unidades.

De acordo com a Copasa, a estação foi projetada para reduzir a matéria orgânica em torno de 70%, assim como qualquer ETE que utiliza processos anaeróbicos. Assim, o efluente tratado se enquadra na Deliberação Normativa conjunta do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) e do Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERH) MG1 de 05 de maio de 2008, em seu capítulo V, artigo 29, parágrafo 4o, item VII.

A ETE dispõe também de um laboratório para realização das análises de rotina, executadas após amostragem obtida por coleta simples duas vezes por dia. Nele, são medidos pH, temperatura, sólidos sedi­­­­­mentáveis, teor de sólidos, acidez volátil, alcalinidade e relação acidez/alcalinidade na entrada, meio e saída do reator.

As estações móveis dispõem de um gerador a diesel e não dependem de acesso à energia elétrica para o início da operação, explica Carlos Leite. "As bombas de esgoto bruto podem ser acionadas por ele enquanto é requerida à concessionária de energia a ligação para o local de instalação da ETE."

Para instalação das estações móveis, porém, são necessárias algumas condições. As rodovias de acesso devem permitir o deslocamento das carretas que medem 3 m de largura, 14 m de comprimento e 5,3 m de altura e pesam, vazias, em torno de 34 mil kg, sendo que a movimentação em áreas urbanas, onde há fiação elétrica, não é recomendada.

Ainda, é recomendado que se tenha uma área igual ou maior que 500 m2 (20 m x 25 m) para instalação da ETE. O último ponto de coleta da rede de esgoto a ser adaptado para recebimento da tubulação de recalque do conjunto elevatório deve estar a jusante da localidade a ser atendida e fora da malha urbana. O local não pode ser área de preservação ambiental e a Copasa recomenda 300 m de distância mínima em relação a edificações habitáveis.

O projeto da ETE Móvel foi idealizado, concebido e fiscalizado durante as fases de projeto, construção e pré-operação por técnicos da Copasa. Já a elaboração do projeto hidráulico ficou a cargo da ALE Engenharia. A montagem e construção e garantias construtivas, bem como a elaboração do projeto estrutural e elétrico, ficaram a cargo e sob a responsabilidade da Randon. Todo o conjunto de ETE Móvel foi patenteado pela empresa.