02 dezembro 2012

Gestão corintiana

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Marcelo Scandaroli

O novo estádio do Corinthians, na zona Leste de São Paulo, está sendo erguido ao custo de R$ 820 milhões. Exatos 46% desse valor - R$ 400 milhões - serão financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com recursos do Pró-Copa, linha de crédito para financiamento das arenas da Copa do Mundo de 2014. Os R$ 420 milhões restantes serão concedidos em títulos de isenção fiscal da Prefeitura de São Paulo, e o Governo Estadual deve investir mais R$ 70 milhões em arquibancadas temporárias para o jogo de abertura do evento esportivo.
Nesta entrevista, o vice-presidente do Corinthians, Luis Paulo Rosenberg, conta as particularidades desses investimentos, como esses aportes estão sendo geridos, em quanto tempo, como o financiamento será quitado e quais os riscos do negócio. Até o fechamento desta edição, O BNDES não havia liberado o valor de R$ 400 milhões para a obra da arena. Confira a entrevista.
"Se o Corinthians é o clube com maior inovação em marketing do País, por que ele entregaria a gestão de um empreendimento desse porte e dessa importância para uma empreiteira?"
Qual o papel do Clube Corinthians no gerenciamento da nova arena?
O Corinthians é o dono da arena. A gente dimensionou o estádio, escolheu o local e as características de cada dependência com base em um estudo de mercado, definiu tecnologias, como deveria ser a iluminação, etc. Também contratamos e controlamos a obra. Portanto, a Arena Corinthians não é um projeto que nasce da engenharia, nem do marketing. Nasce do conhecimento gerencial do Clube Corinthians. Além disso, ao contrário dos demais estádios do Brasil em que a empreiteira avisa o governo que quer fazer uma obra a partir de um projeto que ela própria negocia, o Corinthians, ao contrário, contratou primeiramente o arquiteto - Aníbal Coutinho -, que especificou a arena conforme aspectos de arquitetura, custo e a própria história do Corinthians. E a partir daí contratamos os outros serviços, incluindo a construção.
E qual a vantagem desse gerenciamento por parte do clube em sua opinião?
Ninguém no Brasil é melhor que o Corinthians para gerir a Arena Corinthians. Se o Corinthians é o clube com maior inovação em marketing do País, por que ele entregaria a gestão de um empreendimento desse porte e dessa importância para uma empreiteira? As empreiteiras é que deveriam contratar o Corinthians para gerenciar os empreendimentos das obras de estádios que elas fazem.
Mas se é o clube que gerencia os recursos, é ele também que operacionaliza o Arena Fundo de Investimento Imobiliário, e não a BRL Trust? E onde entra a Odebrecht?
O fundo existe para permitir o empréstimo à obra - que não poderia ser feito via clube - e para garantir ao financiador que esse estádio, prioritariamente, paga suas dívidas. A estrutura do fundo também tem a vantagem de blindá-lo de qualquer problema trabalhista que envolva o clube. Ele passa a ser uma instituição à parte em que o estádio e todas as propriedades do clube ficam contidas no fundo até o final do débito. Portanto, não se trata de um fundo que distribui cotas a quem quiser. Ele só tem três cotistas: o cotista sênior, que é o investidor, no caso, o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], que tem como intermediário o Banco do Brasil; o cotista júnior, que é o Corinthians, que colocou todas as suas propriedades dentro do fundo, somando R$ 470 milhões; e o cotista mezanino, que é a Odebrecht, que, para ter o benefício da obra, compromete-se a comprar a cota do Corinthians caso ele fique inadimplente. A BRL Trust é uma operadora a quem cabe realizar as operações financeiras e avaliar a boa qualidade das transações que o clube faz por meio do fundo.
Nesse sentido, o cotista júnior se compromete a usar todas as receitas advindas da operação do estádio para resgatar as cotas do cotista sênior?
Exatamente. E isso num prazo de financiamento de dez anos, ou seja, em 120 parcelas mensais.
Por que dez anos de financiamento se o Arena Fundo de Investimento Imobiliário foi prolongado de 16 para 30 anos? Isso não significa que o estádio só será do Corinthians em 30 anos?
Não tem nada a ver uma coisa com a outra. O Corinthians é proprietário do estádio desde o primeiro dia da obra. Mas, como em todo financiamento, o agente financiador detém direitos do bem alienado até que a dívida seja quitada. Então, uma coisa é a propriedade do estádio - que é do Corinthians, ainda que em nome do financiador até acabar a dívida. Outra coisa é a previsão de quitação dos débitos do clube com o BNDES, que é de dez anos. E uma terceira coisa é o tempo de vida do fundo, que estabelecemos em 30 anos.
Mas, então, o que significa prolongar para 30 anos um fundo criado para receber todas as receitas do estádio até o clube pagar os custos da obra?
O fundo é uma entidade à parte do clube e pode nos trazer benefícios gerenciais em outras situações. Em dez anos, quando quitar o financiamento com o BNDES, o Corinthians será dono de todas as cotas do fundo e, portanto, o fundo será dele e o clube poderá usar desse mecanismo como bem entender. Em 30 anos, quando acabar o prazo de validade do fundo, o Corinthians poderá extingui-lo ou, ainda, aumentar sua validade. Isso vai depender das estratégias gerenciais do dirigente que tiver à frente do clube.
De onde virá o dinheiro para quitar o financiamento com o BNDES?
O naming rights [direito de nomear um estádio com uma marca] da Arena Corinthians vai movimentar, no mínimo, R$ 25 milhões por ano. A venda dos 100 camarotes do estádio, por 500 mil, gerará receita de R$ 50 milhões por ano. As 20 mil numeradas trarão mais R$ 80 milhões por ano. Isso sem contar o faturamento do restaurante, dos eventos, do museu, dos patrocinadores, da publicidade, etc.
E quando, enfim, vocês pretendem negociar o naming rights da arena?
Não tenho pressa. Vamos supor que o financiamento com o BNDES seja assinado no final deste mês. Isso me dará dois anos de carência, ou seja, a primeira prestação será paga só em janeiro de 2015! Até lá, o estádio já estará construído e muito mais valorizado do que hoje. Então, se posso esperar até janeiro de 2015, por que venderia os direitos de naming rights agora? Isso significaria vender na baixa.

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