17 março 2013

Candidatura de São Paulo EXPO 2020 "Masterplan"

10 tecnologias que podem salvar a economia mundial

http://www.iengenharia.org.br/site/noticias/exibe/id_sessao/4/id_noticia/7402/10-tecnologias-que-podem-salvar-a-economia-mundial

Revolução Industrial 2.0 

O Fórum Econômico Mundial anunciou sua lista das 10 principais tendências tecnológicas que prometem decolar e levar junto a quase paralisada economia mundial. 

Segundo a entidade, essas tecnologias poderão ajudar a alcançar um crescimento econômico sustentável nas próximas décadas, conforme continuam a crescer a população global e, por decorrência, as demandas materiais sobre o meio ambiente. 

A seleção das tecnologias levou em conta a possibilidade de avanços no desenvolvimento industrial e econômico, e a possibilidade de implantação industrial a curto e médio prazo. 


A Coreia do Sul começou a testar trens alimentados por eletricidade sem fios. [Imagem: KAIST
 Veículos Elétricos Online (OLEV) 
Tecnologias de eletricidade sem fio já conseguem fornecer eletricidade para veículos em movimento. 

Na próxima geração de carros elétricos, conjuntos de bobinas de captação sob o assoalho do veículo vão receber a energia remotamente através de um campo eletromagnético de transmissão gerado por cabos instalados sob a estrada. 

A corrente elétrica sem fios também recarrega uma bateria utilizada para alimentar o veículo quando ele está fora das redes de suprimento ou circulando por vias que ainda não contam com a infraestrutura. 

Como a eletricidade é fornecida externamente, esses veículos precisam de uma bateria com apenas um quinto da capacidade da bateria de um carro elétrico atual. 

Os sistemas de eletricidade sem fios já podem alcançar uma eficiência de transmissão de mais de 80%. 

Veículos online elétricos já estão em testes de estrada em Seul, na Coreia do Sul. 

Impressão 3-D e fabricação remota
A impressão tridimensional permite a criação de estruturas sólidas a partir de um arquivo CAD de computador, potencialmente revolucionando a economia industrial se os objetos puderem ser impressos remotamente. 

O processo envolve camadas de material que são depositadas umas sobre as outras para criar virtualmente qualquer tipo de objeto. 

Projetos assistidos por computador são "fatiados" em modelos de impressão, permitindo que objetos criados virtualmente sejam usados como modelos para reproduções reais feitas de plástico, ligas metálicas ou outros materiais. 

O recurso de impressão 3-D de objetos também é conhecido como fabricação aditiva, tendo nascido para a criação de protótipos, mas está rapidamente se transformando em uma técnica de fabricação em larga escala. 



A impressão 3D promete nada menos do que a quarta revolução industrial, a era das máquinas livres. [Imagem: Pearce/Science]
Materiais com autocura 
Uma das características básicas dos organismos vivos é a sua capacidade inerente para reparar danos físicos - cicatrizar-se e curar-se de ferimentos, por exemplo. 

Uma tendência crescente no biomimetismo é a criação de materiais estruturais não-vivos que também têm a capacidade de curar-se quando cortados, rasgados ou quebrados. 

Materiais que se consertam sozinhos podem reparar danos sem intervenção humana externa, o que poderá dar vida mais longa aos bens manufaturados e reduzir a demanda por matérias-primas. 

Outro potencial é o de melhorar a segurança inerente dos materiais utilizados na construção civil ou carros e aviões. 



Materiais autocicatrizantes prometem ajudar a cuidar melhor da saúde e a proteger prédios e aviões. [Imagem: UIUC]
Purificação de água energeticamente eficiente
A escassez de água é um problema ecológico crescente em muitas partes do mundo, devido principalmente a demandas concorrentes da agricultura, das cidades e outros usos humanos. 

Enquanto os sistemas de água doce estão sobre-utilizados ou exauridos, a dessalinização da água do mar oferece uma fonte quase ilimitada de água. 

Mas hoje isso tem um custo considerável de energia - principalmente de combustíveis fósseis - para alimentar os sistemas de evaporação ou osmose reversa. 

Tecnologias emergentes oferecem o potencial para a dessalinização e a purificação de águas residuais significativamente mais eficientes em termos de energia, potencialmente reduzindo o consumo de energia em 50% ou mais. 

Técnicas como a osmose reversa também podem ter sua eficiência melhorada pela utilização de calor residual de termelétricas ou calor renovável, produzido por energia termossolar ou geotérmica. 


Novas tecnologias de microfiltragem podem viabilizar a dessalinização da água do mar a baixo custo. [Imagem: Damien Quémener]
Conversão e uso de dióxido de carbono (CO2)
As longamente esperadas tecnologias para a captura e sequestro de dióxido de carbono ainda estão por demonstrar-se comercialmente viáveis, mesmo na escala de uma única estação geradora de energia. 

Novas tecnologias que convertem o CO2 indesejável em produtos vendáveis podem potencialmente resolver tanto as deficiências econômicas quanto energéticas das estratégias convencionais de captura e sequestro de dióxido de carbono. 

Uma das abordagens mais promissoras usa bactérias fotossintéticas geneticamente modificadas para transformar resíduos de CO2 em combustíveis líquidos ou produtos químicos de baixo custo usando sistemas conversores modulares alimentados por energia solar. 

Sistemas individuais desse tipo prometem cobrir centenas de hectares nos próximos dois anos. 

Sendo de 10 a 100 vezes mais produtivos por unidade de área de terra, estes sistemas resolvem uma das principais limitações ambientais dos biocombustíveis gerados a partir de matérias-primas agrícolas ou de algas, e poderão fornecer combustíveis de baixo teor de carbono para automóveis, aviões ou outros grandes usuários de combustíveis líquidos. 



Vários estudos já demonstraram a possibilidade de usar a energia solar para transforma CO2 em combustível para carros. [Imagem: UCLA]
Nutrição saudável em nível molecular 
Mesmo em países desenvolvidos, milhões de pessoas sofrem de desnutrição, devido à deficiência de nutrientes em suas dietas. 

Técnicas genômicas modernas podem determinar ao nível de sequência genética a grande variedade de proteínas naturais que são importantes para a dieta humana. 

As proteínas identificadas podem ter vantagens sobre os suplementos proteicos tradicionais na medida que podem fornecer uma maior percentagem de aminoácidos essenciais, e têm melhor solubilidade, sabor, textura e características nutricionais. 

A produção em larga escala de proteínas alimentares puras para o ser humano, com base na aplicação da biotecnologia para nutrição molecular, pode oferecer benefícios à saúde, como melhor desenvolvimento muscular, gestão do diabetes ou redução da obesidade. 



A Biotecnologia está começando a criar as biofábricas do futuro. [Imagem: Wayne R.Curtis/PSU]

Sensoriamento remoto 
O uso cada vez mais generalizado de sensores que permitem respostas passivas a estímulos externos vai continuar a mudar a nossa forma de responder ao ambiente, em especial na área da saúde. 

Exemplos incluem sensores que monitoram continuamente a função corporal - como frequência cardíaca, oxigenação do sangue e níveis de açúcar no sangue - e, se necessário, desencadear uma resposta médica, como o fornecimento de insulina. 

Os avanços dependem da comunicação sem fio entre dispositivos - nós das redes de sensores -, tecnologias de sensoriamento com baixo consumo de energia e, eventualmente captação ativa de energia, através dos chamados nanogeradores. 

Outro exemplo inclui a comunicação veículo-a-veículo para melhorar a segurança nas ruas e estradas. 



Tecidos ciborgues misturam biológico e eletrônico. [Imagem: Tian et al./Nature Materials]
Aplicação precisa de medicamentos por engenharia em nanoescala 
Fármacos que podem ser aplicados com precisão em nível molecular no interior ou em torno de uma célula doente oferecem oportunidades sem precedentes para tratamentos mais eficazes, ao mesmo tempo reduzindo os efeitos colaterais indesejados. 

Nanopartículas funcionalizadas, que aderem ao tecido doente, permitem a aplicação em microescala de potentes compostos terapêuticos. 

Isso minimizando o impacto do remédio sobre os tecidos saudáveis. 

Essas nanopartículas funcionais estão começando a avançar rumos aos testes clínicos. 

Depois de quase uma década de pesquisa, estas novas abordagens estão finalmente mostrando sinais de utilidade clínica. 




Cientistas mais ousados trabalham com a possibilidade de que nanofábricas produzam medicamentos dentro do próprio corpo humano. [Imagem: Avi Schroeder]
Eletrônica e fotovoltaicos orgânicos
A eletrônica orgânica baseia-se na utilização de materiais orgânicos, tais como polímeros, para criar circuitos e dispositivos eletrônicos. 

Esses circuitos eletrônicos orgânicos podem ser fabricados por impressão e normalmente são finos, flexíveis e até transparentes. 

Em contraste com os semicondutores tradicionais à base de silício, que são fabricados com técnicas caras de fotolitografia, a eletrônica orgânica pode ser impressa usando processos de baixo custo, similares à impressão a jato de tinta. 

Isso torna os produtos extremamente baratos em comparação com os dispositivos eletrônicos tradicionais, tanto em termos de custo por aparelho, quanto do capital necessário para produzi-los. 

Embora atualmente a eletrônica orgânica não se encontre em condições de competir com o silício em termos de velocidade e densidade, ela tem o potencial para proporcionar uma vantagem significativa em termos de custo e versatilidade. 

Coletores solares fotovoltaicos impressos, por exemplo, custando muito menos do que as células solares de silício, podem acelerar a transição para as energias renováveis. 



Circuitos eletrônicos biodegradáveis já funcionam como curativos eletrônicos, mas logo poderão se dissolver no corpo humano. [Imagem: Fiorenzo Omenetto/Tufts University]
Quarta geração de reatores nucleares e reciclagem de resíduos
Os reatores nucleares atuais usam apenas 1% da energia potencial disponível no urânio, deixando o resto radioativamente contaminado como lixo nuclear. 

O desafio de lidar com os resíduos nucleares limita seriamente o apelo desta tecnologia de geração de energia. 

A reciclagem do urânio-238 em um novo material físsil caracteriza o que está sendo chamado de Nuclear 2.0. 

A promessa é de estender em séculos a vida útil dos recursos de urânio já minerados, ao mesmo tempo reduzindo drasticamente o volume e a toxicidade do lixo nuclear, cuja radioatividade vai cair abaixo do nível do minério de urânio original em uma escala de tempo de séculos, e não mais de milênios, como é hoje. 

Tecnologias de quarta geração, incluindo reatores rápidos resfriados por metal líquido, estão sendo implantados em vários países e já são oferecidos por empresas fabricantes de equipamentos de engenharia nuclear. 

06 março 2013

Porto Maravilha (2)


Reestruturação urbana avança por onde a cidade começou




http://www.oempreiteiro.com.br/Publicacoes/12611/Reestruturacao_urbana_avanca__por_onde_a_cidade_comecou.aspx



Serão R$ 7,6 bilhões aplicados em 5 milhões de m² na zona portuária. No traçado há construção de túneis, um deles com função estrutural, a demolição da Perimetral e intervenção para preservar o Palacete D. João VI, de 1912, sede,  a partir de março, do Museu de Arte do Rio (MAR)


Nildo Carlos Oliveira - Rio de Janeiro (RJ)

As intervenções ocorrem em área situada nos limites das quatro mais importantes avenidas centrais - Francisco Bicalho, Rodrigues Alves, Rio Branco e Presidente Vargas – que se interconectam com a avenida Brasil, a Linha Vermelha e a Ponte Rio-Niterói, além de situar-se perto do Aeroporto Internacional Tom Jobim, de dois terminais rodoviários e de estações de trem e metrô.


Há décadas degradada e abandonada pelo poder público, a zona portuária tem sua visão, a partir do mar, obliterada por um desses monstrengos de concreto e aço que constituíram, para alguns, no começo dos anos 1970, solução viária eficiente: o Elevado da Perimetral, que liga o bairro do Caju à Praça XV. 

Com a demolição parcial da Perimetral (da Rodoviária Novo Rio ao Mosteiro de São Bento) poderá haver, segundo o projeto do Porto Maravilha, um reencontro da cidade - naquela região - com uma nova estética urbana. Antigos prédios históricos, como o palacete referido, avultarão no cenário. E, com eles, ganhará visibilidade o perfil de edificações modernas, uma delas já em fase de construção, o Museu do Amanhã, projetado pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava.

E outras mudanças ocorrerão naquela área: empreendimentos imobiliários de porte, residenciais e corporativos irão se encaixando na nova paisagem, a exemplo de dois edifícios de alto padrão, que somam 222.472 m² de área construída. Anunciados pela Tishman Speyer, o primeiro deles é o Port Corporate Tower, em construção nas proximidades do prédio do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia. O segundo, projetado pelo escritório do inglês Norman Foster, será construído na avenida Rodrigues Alves.

As obras em andamento na zona portuária resultam de uma das maiores parcerias público-privadas (PPP) já assinadas no País. O contrato foi firmado entre a Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp) e a concessionária vencedora de licitação pública Porto Novo S.A., formada pela Construtora Norberto Odebrecht, OAS e Carioca Engenharia. Elas constituíram o consórcio construtor Porto Rio. Pelo contrato, as intervenções deverão estar concluídas até 2016, ano da Olimpíada. Mas a concessionária continuará a prestar serviços de manutenção e conservação de vias públicas pelos próximos 15 anos.

Atualmente, além de procurar colocar em prática novos padrões urbanísticos na região do porto, a concessionária vem eliminando a fiação aérea e instalando uma rede subterrânea; implementando ainda, no subsolo, 122 km de redes de água potável; executando 36,5 km de redes de drenagem e 11 km de galerias; construindo 84 km de redes de esgotos e 26 km de redes de gás e instalando os dutos para cabeamento da rede de fibra óptica.

Nesse conjunto de obras, em que a cidade redescobre as suas origens, sobressaem aquelas, estruturantes, que vão compor um novo sistema viário para resolver o tráfego congestionado que passa ou tangencia a zona portuária. E é por ali que a engenharia é solicitada a empregar técnicas capazes de preservar o passado, na construção de caminhos novos.

O poço, o túnel e os prédios antigos

O engenheiro Ricardo Bueno, da Odebrecht Infraestrutura, diretor de contrato do Porto Rio, diz que faz parte do programa de obras o novo sistema viário que será constituído pela Via Binário do Porto e pela Via Expressa;  a requalificação geral da zona portuária e a demolição de trecho da Perimetral.


Ricardo Bueno, diretor de contrato

“As obras que não fazem parte de nosso escopo, mas que são significativas para a região e para a cidade como um todo, são as do VLT (Veículo Leve sobre Trilho). Esse sistema de transporte, associado aos demais disponíveis - trem, metrô e ônibus - facilitará a circulação dos moradores e trabalhadores, o que inibirá, naturalmente, o uso do veículo particular”, afirma o engenheiro.

Na Via Binário está sendo construído o túnel da Saúde, que atravessa 70 m do morro da Saúde, e o túnel do Binário, que terá 1.100 m de extensão. Ele começa na rua 1º de Março, passa por baixo do morro de São Bento e emerge nas proximidades da avenida Barão de Tefé,  seguindo, então, o traçado da antiga Via Trilhos. As obras da Via Binário, que terá 3,5 km de extensão, deverão ficar prontas este ano.



A Via Expressa terá 4 km de extensão e, nela, haverá um túnel de 1.540 m de comprimento. Ele parte das proximidades da avenida Presidente Vargas e volta à superfície na altura do Armazém 6 do Cais do Porto. A Via Expressa continua sobre o traçado da avenida Rodrigues Alves. O trânsito local será distribuído pela Via Binário do Porto.

O novo sistema viário, assim constituído, poderá aumentar em 40% a capacidade para atendimento do tráfego local, substituindo a função Perimetral, que atualmente, além de ser um obstáculo ao crescimento urbano e econômico na área, está saturada e deficiente. Com a nova solução viária, a capacidade de tráfego nas duas vias será da ordem de 10.500 veículos/hora até 2015. 

Para a construção da Via Binário, e tendo-se em conta as questões da geologia local, a contiguidade com as fundações de edificações históricas importantes que não poderiam ser afetadas, a proximidade com a vizinhança que ali reside e trabalha, e a necessidade da utilização de explosivos nas escavações de túneis, o consórcio precisou estudar e utilizar procedimentos especiais, continuamente monitorados. Além das dificuldades impostas por essas limitações, sobrevinha outra: em razão do trânsito caótico no sistema viário atual, foi preciso distribuir os serviços em 22 canteiros compactos onde se movimentam, em espaços exíguos, máquinas e trabalhadores.

O diretor do contrato informa que boa parte do trecho por onde foi construído o Elevado da Perimetral se estende à beira-mar, sobre área aterrada. Trata-se de aterro formado basicamente de sedimento marinho, ao longo dos anos, no século passado. O traçado do túnel avançaria originalmente por esse aterro.

Com base nas sondagens realizadas na fase da elaboração do projeto, o consórcio construtor decidiu mudar o traçado, desviando-o do aterro sedimentar para a área onde há afloramento rochoso. O engenheiro Fernando Rebouças Stucchi, da EGT Engenharia, que, com a empresa Engecorps Engenheiros Consultores, elaborou o cálculo das “obras estruturantes”, costuma dizer que, naquele trecho, “há vários Pães de Açúcar enterrados”.

Para escavar o túnel da Via Binário do Porto foi executado um poço de acesso na Praça Mauá, com 27 m de diâmetro, 38 m de profundidade na cota mais inferior e 35 m no patamar geral. É a partir dali que está sendo escavado o túnel rodoviário de 14 m de largura, 8 m de altura e 1.100 m de extensão. O poço, contudo, teve outra finalidade: evitar que as fundações do Palacete Dom João VI e do prédio da Polícia Federal, ambos contíguos à obra, fossem afetadas.


O poço de serviço, para abertura do túnel a partir da Praça Mauá, foi provido de paredes-diafragma

O Palacete Dom João VI possui fundações executadas com estacas de madeira e o outro prédio, fundações executadas com estacas metálicas.

Ricardo Bueno informa que, quando da escavação do poço de acesso na Praça Mauá, um dos pré-requisitos da engenharia era evitar o rebaixamento do lençol freático. Não se poderia deixar que a água e o oxigênio afetassem as estacas de madeira. Esse material, quando só na água, não apodrece e, quando somente em terreno seco, também não. Mas a conjunção dos dois fatores seria danosa para as fundações.

A solução adotada foi a escavação do poço com a consequente execução de parede-diafragma, trabalho em que o consórcio utilizou uma hidrofresa alemã, dotada de um bit de escavação em rocha. As paredes-diafragma garantem a estanqueidade do poço e, consequentemente, a integridade das estacas de madeira. Contudo, conforme lembra Fernando Rebouças Stucchi, havia também o problema das estacas metálicas da edificação que abriga as instalações da Polícia Federal. Elas estão fincadas na rocha e, portanto, no processo de escavação do túnel, poderiam ser seccionadas.

Para preservar as estacas metálicas aventaram-se várias ideias. Uma delas seria a execução de uma subfundação para a transferência das cargas. Tal possibilidade foi analisada, mas, nesse interim, surgiu outra, mais simples: caso o túnel fosse executado com a maior profundidade, não seria preciso mexer nas estacas. O inconveniente consistia no seguinte: quanto mais fundo um túnel, mais comprido ele pode ficar e, quanto mais comprido, mais caro pode custar. Ocorre que tal solução contou com o apoio dos técnicos do consórcio construtor e está sendo levada adiante.   

Um questionamento suscitado no começo das escavações dizia respeito ao uso da hidrofresa. Indagava-se: por que não o shield, comprovadamente eficiente nas escavações de túneis do metrô? E Ricardo Bueno responde: “O shield é viável quanto se tem em conta exatamente isso –túnel metroviário, com diâmetro específico para a passagem simultânea de dois trens. Mas o que nós estamos construindo é túnel rodoviário, com seção própria. Pela extensão e pelo diâmetro, o shield ali não seria recomendável”.

O processo em curso é perfuração, desmonte com explosivos, carregamento e transporte do material escavado para a área do bota-fora, a fim de ser posteriormente britado e utilizado em pavimentação. Em outros trechos, em solo, está sendo usado o método NTAM (New Austrian Tunneling Method) ou o sistema cut and cover invertido: faz-se a laje superior e, em seguida, escava-se por baixo. 

O sistema de escavação, com o uso de explosivos, tanto no túnel da Saúde quanto no túnel do Binário do Porto, exigiu cuidados especiais por conta do desconforto que tais operações provocam na população local. Por isso, há um sistema de alerta por meio de sirenes. Depois, o operador e controladores de tráfego procedem ao bloqueio temporário no trânsito nas vias do entorno para veículos e pedestres. A detonação segue um rito planejado, controlado e seguro, segundo Ricardo Bueno.


O túnel da Saúde constitui engenhosa solução estrutural para suportar a extremidade da pedreira antiga sobre a qual se encontram fundações de condomínios

O túnel estrutural


O túnel da Saúde encaixa-se ao final de uma pedreira explorada no século passado para a compactação do aterro da região portuária. Havia até um dique, ali perto, de propriedade do Lloyd Brasileiro, inaugurado em 1911 e que foi aterrado com material oriundo dessa pedreira. Na década de 1980 a Caixa Econômica Federal favoreceu a construção de nove torres residenciais no morro. De modo que a área da pedreira não poderia sofrer alterações, sob pena de ocasionar problemas ambientais ou prejudicar aquelas torres. Contudo, a Via Binário do Porto teria de passar por ali. E passa, mas deixando espaço para a passagem, também, do VLT.


Desenhos esquemáticos do túnel mostram a localização dos emboques e a passagem do VLT

Mas como fazer o túnel, sem que isso implicasse quaisquer problemas estruturais? A solução foi a construção da obra com seção transversal e revestimento primário, executado durante a escavação. Pode-se afirmar que são, a rigor, dois túneis laterais (“side-drifts”) nos quais está incorporado o túnel central, para o VLT, conforme esclarece o engenheiro Marcelo Wainberg, também da EGT Engenharia.

Na fase da execução dessa passagem de 70 m sob o morro da Saúde foi necessária a instalação de tirantes que atravessam o maciço. Eles proporcionaram segurança na escavação. E houve aplicação de concreto projetado para evitar deslizamentos.

O túnel tem função estrutural. Devido à exígua cobertura de rocha e solo residual, e do empuxo desequilibrado na direção transversal, não há quase trabalho de arqueamento de carga no terreno. As camadas de solo e rocha acima do que os calculistas chamam da “geratriz superior” acabam pesando sobre a estrutura sem transportar carga transversalmente. O empuxo transversal desequilibrado gera flexões significativas na estrutura. O túnel, portanto, é uma peça estrutural, encaixada na formação rochosa da antiga pedreira – mais uma solução aparentemente simples, mas original, que resolveu uma série de problemas até econômicos e sociais.

A demolição da Perimetral

No dia 4 deste mês foi efetuada a operação para a remoção da primeira viga do Elevado da Perimetral, parte importante das obras do projeto Porto Maravilha. A peça metálica, de 40 m de extensão e 22 t, é a primeira dentre as 1.008 do gênero que serão retiradas dali e levadas para área selecionada para receber as vigas e os fragmentos da estrutura de concreto.

Ricardo Bueno explica que não há um método específico para o processo de demolição. Ali, todas as opções são válidas. A Perimetral não tem uma estrutura técnica única ao longo de sua extensão. Há pilares centrais, balanços com vigas metálicas, pórticos biapoiados num pilar, dois apoios e vigas centrais e trechos em caixão perdido. “Portanto, não temos uma receita única para colocar aquilo no chão”, diz o engenheiro.

Cada pedaço do elevado requer uma técnica diferente na desmontagem e na fragmentação da estrutura de concreto, um trabalho moroso, cuidadoso, que requer avaliações prévias para interferência no tráfego – sobretudo porque trechos do elevado continuarão em operação. De qualquer modo, o calendário é implacável. E 2016, ano da Olimpíada, não está longe.



 


terça-feira, 5 de março de 2013
Fonte: Padrão

Porto Maravilha-RJ


Solução para espaço urbano com décadas de degradação


Vários projetos, dentro e fora da região do Porto Maravilha, estão mudando a fisionomia urbana do Rio de Janeiro. O Porto Maravilha, em especial, reverte uma situação de anos, décadas de degradação
 

http://www.oempreiteiro.com.br/Publicacoes/12610/Solucao_para_espaco_urbano_com_decadas_de_degradacao.aspx
O sociólogo Alberto Silva, presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp), diz que a operação urbana Porto Maravilha, que compreende uma série de obras atualmente em fase de execução, vai reintegrar cerca de 5 milhões de m² da cidade. “Já é uma alteração e tanto na paisagem. Mas, veja bem” – assinala, falando com exclusividade para a revista O Empreiteiro – “estamos nos referindo à reversão de um estado de anos, décadas de degradação.”

Ele afirma que a implantação das linhas de BRT e a construção de outras obras estruturantes, que “extrapolam os limites da região portuária”, compõem o conjunto de programas que modificam a face da cidade e vão mais além:  eles refazem as redes de infraestrutura de serviços, tais como água, saneamento, drenagem, gás natural, energia, iluminação pública e telecomunicações. São 700 km de redes de infraestrutura urbana.
 

Alberto Silva, presidente da Cdurp

“Em algumas áreas, o trabalho é de implantação. Também repensamos o sistema de mobilidade urbana. Vamos construir cerca de 5 km de túneis, reurbanizar 70 km de vias e 650 mil m² de calçamento. Pretendemos aumentar a cobertura verde de 2% para 10% com plantio de 15 mil árvores. Além disso, o projeto tem em vista 17 mil m de ciclovias. E não ficaremos somente nesse plano de obras e administração”.

A operação urbana, segundo ele, tem o potencial de um programa de desenvolvimento econômico e social. As projeções da Cdurp indicam crescimento da população de 30 mil habitantes para 100 mil até 2020. Isso significa que a prefeitura carioca deverá garantir a presença dos atuais moradores, promover condições para que eles cresçam e estabelecer condições para que aquele espaço atraia novos habitantes.

“Para esse fim”,  assinala Alberto Silva, “o governo municipal terá de gerar emprego e renda e fomentar o empreendedorismo local, simultaneamente ao desenvolvimento imobiliário que já traz novos negócios e oportunidades à região.”
 
Estatuto das Cidades

O presidente da Cdurp informa que o que ele chama de “operação urbana Porto Maravilha” tornou-se possível em razão do advento do Estatuto das Cidades. Esse instrumento urbano criou condições para a alavancagem de recursos destinados a revitalizar áreas degradadas de cidades. 

“A modelagem que adotamos”, diz ele, “é a de operação urbana consorciada por meio de Parceria Público-Privada (PPP). A prefeitura emitiu 6,4 milhões de Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs), leiloados em lote único em 2011 e adquiridos pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), administrado pela Caixa Econômica Federal. O resultado dessa modelagem financeira é que a captação de recursos tem relação direta com o desenvolvimento imobiliário, sem uso do orçamento da prefeitura.”

O dinheiro levantado nessa operação vai garantir a execução de obras e serviços públicos municipais por um período de 15 anos. “Trata-se de obrigação legal. A Lei Complementar nº 101 dá todas as diretrizes. Recursos obtidos com a venda de potencial adicional de construção são carimbados para melhorar a qualidade de vida nessa área para moradores e cidadãos como um todo.”

Ele assegura que as obras de implantação da nova infraestrutura urbana e reformulação do sistema viário serão executadas até 2016. Os serviços públicos municipais que passaram a ser prestados pela Concessionária Porto Novo, contratada via licitação pela prefeitura do Rio, vão até 2026.

“Como resultados dessa operação, já temos exemplos práticos na limpeza urbana e na melhoria de tráfego. Outros aspectos importantes são: a região portuária será a primeira a implantar o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) no País; terá o melhor sistema de telecomunicações da América do Sul, equipamentos culturais do porte do Museu de Arte do Rio (MAR) e do Museu do Amanhã convivendo com o recém-criado Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana.”

Alberto Silva diz que, embora em fase inicial, as obras em andamento já atraem para a área a frequência de moradores de outros bairros e suscita a curiosidade internacional.  “Além disso”, continua ele, “associações importantes ocorreram nos últimos três anos, como a criação de um condomínio cultural na região e a transformação do Polo da Rua Larga em Polo da Região Portuária, maior e mais abrangente”.

O presidente da Cdurp informa que blocos carnavalescos ressurgiram em razão do orgulho que têm com a vivência nessa área. E os 3.500 empregos gerados pelas obras sofrem e causam impacto positivo estimulando o restauro de prédios históricos, que por sua vez “se conectam à visibilidade das atividades culturais e turísticas locais.”
 
Arquitetos do exterior

Sobre a participação de arquitetos de renome internacional nas obras do Porto Maravilha (o espanhol Santiago Calatrava elaborou o projeto do Museu do Amanhã), o presidente da Cdurp acha muito positiva o que ele chama de interação entre escritórios nacionais e internacionais de arquitetura no processo de revitalização daquela região. Ele diz que há conquistas de um lado e de outro e que essa reciprocidade tem sido muito bem assimilada pelo Brasil, cujos profissionais da arquitetura e da engenharia têm-se destacado pela engenhosidade com que oferecem soluções para projetos nesses segmentos.

05 março 2013

Novos corredores de ônibus de SP serão acompanhados de ciclovias

http://catracalivre.folha.uol.com.br/2013/02/novos-corredores-de-onibus-de-sp-serao-acompanhados-de-ciclovias/


Os novos corredores de ônibus de São Paulo, previstos para as avenidas dos Bandeirantes e 23 de Maio, serão acompanhados de ciclovias em seus trajetos. Os caminhos para as bicicletas ficarão próximos às calçadas.
Segundo informações do jornal O Estado de S. Paulo, os postes de iluminação e sustentação dos fios elétricos serão removidos para que a ciclovia seja feita. O diário ainda afirma que o prefeito Fernando Haddad autorizou o que toda a fiação dos trajetos deve ser enterrada, desde que isso seja possível. Assim, as calçadas ganharão o espaço para as faixas especiais.
Mas além dessas avenidas, o corredor da Radial Leste, que ligará a região centrao ao bairro de Itaquera, na zona leste, também terá um projeto de ciclovia. Ainda não está claro se a via para bikes já construída pelo Metrô será incorporada ao projeto. Prometida há anos, a obra desse corredor está atrasada por causa de uma decisão judicial. O início das obras está previsto para março.
Luis Fernando GalloLuis Fernando Gallo
A ciclovia vai acompanhar os trechos dos corredores, como o que vai ligar a região central até a zona leste

Assista ao vídeo da candidatura de São Paulo para sediar a Expo 2020

04 março 2013

ARENAS DE SANGUE

http://www.brasil247.com/pt/247/esporte/33799/

"O fim do lixo", O Estado de S.Paulo

http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/node/25250



 
Por Camilo Rocha
Ex-técnico em eletrônica cria cooperativa para dar destino a computadores e celulares velhos em São Paulo. Só que, por falta de informação da população, opera abaixo da capacidade
SÃO PAULO – O carro está com o banco de trás e o porta-malas cheios. Há uma torre de um computador de 15 anos, caixas cheias de CDs e DVDs velhos, outra caixa com pilhas usadas, extensões mortas, uma antiga secretária eletrônica e um roteador apagado. Resíduos tecnológicos acumulados nesses 15 anos. Em 20 minutos, havia me livrado de tudo.
O destino foi a Coopermiti, única cooperativa especializada em lixo eletrônico de São Paulo. Fica numa rua secundária da Barra Funda. Chegando no local, o processo de me livrar da carga foi bem rápido e fácil. Meus velhos objetos se juntaram a outros milhares.
Andando pelo galpão de 2 mil metros quadrados, é impossível não se impressionar com as enormes caixas, divididas por categoria. Uma estava lotada de mouses. Outra tinha placas de circuito impresso. Uma mais adiante cheia de teclados. E uma só com consoles Xbox. Ao fundo, um pequeno museu, com um telefone de discar, videogames antigos e TVs do tempo do Chacrinha.
No outro lado do galpão, imensas gaiolas prendem montanhas de monitores e telas. Passariam por alguma instalação de arte de vanguarda, daquelas que querem denunciar o caráter descartável da sociedade tecnológica.
Pessoas sentadas em bancadas desmontam pacientemente os aparelhos. Bate certo desespero quando passo perto de uma torre de computador sendo desconstruída em dezenas de partes, algumas delas com minúsculos parafusos e componentes de plástico. São centenas de peças em milhões de máquinas ao redor do mundo. Este é o tamanho do desafio do lixo eletrônico.
Alex Pereira, presidente da Coopermiti, conta que a cooperativa existe desde 2008. O projeto original era o de um museu de tecnologia. Mas o plano não conseguiu arrecadar fundos. Alex pensou então em fazer algo com caráter educacional. A ideia teve origem em seu trabalho anterior, de técnico em eletrônica.
“Aprendi muito mexendo em tecnologia antiga. Toda oficina de conserto tem um equipamento velho para você reaproveitar peças. Aí está a base da tecnologia”, diz Pereira, que viu nos objetos ferramentas de capacitação e ensino técnico.
A Coopermiti opera abaixo da capacidade mensal de 100 toneladas desde o primeiro dia em que abriu. Seu pico, no ano passado, foi 40%. Em janeiro, tinha caído para 30%. Por conta disso, os cooperados recebem hoje em média entre R$ 700 e R$ 800 por mês.
Pereira garante que já procurou parcerias com empresas de tecnologia e eletrônicos, mas sempre deu com portas fechadas. “Conseguimos apoio na prefeitura de São Paulo, que nos cedeu o local, luz, água e caminhão com motorista para coleta.” Com a mudança na administração municipal, ele ainda não sabe se a parceria será mantida.
O curioso é que a Coopermiti não recicla o lixo eletrônico gerado pela prefeitura, cuja destinação Pereira não sabe dizer qual é. Do mesmo modo, “os eletrônicos que eles pegam na coleta seletiva não vêm pra gente”.
Além do recebimento de resíduos na própria sede, a cooperativa também faz coleta dentro do município de São Paulo. Se a quantidade na sua casa justificar, uma retirada pode ser agendada. Pereira sugere que vizinhanças se mobilizem para acumular material o suficiente. A cooperativa também recebe lixo coletado de postos de empresas parceiras, como os shoppings Santana e Continental.
Hoje, a Coopermiti só não fica no vermelho por causa do apoio de uma indústria de reciclagem japonesa. A empresa compra resíduos da chamada “linha verde” para extrair metais nobres e raros. “Poucas empresas no mundo têm tecnologia para isso, no Brasil nenhuma. Essa empresa nos apoia como projeto social. Paga à vista e compra o que coletamos”, diz Pereira. O material inclui placas de computador, roteador, memórias e componentes de telefones. No total, são quase cinco toneladas por mês.
Para Pereira, o principal entrave para que a Coopermiti consiga reciclar mais é a “falta de divulgação”. Ele acredita que a população usaria muito mais o local se soubesse de sua existência.
O pensamento coincide com o que contou ao Link Carlos Silva Filho, diretor executivo da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Para Silva, a grande maioria da população faria a destinação correta se fosse estimulada e tivesse as condições. A conclusão veio a partir de uma pesquisa que mostrou que 89% dos usuários dos postos de coleta da Abrelpe preferiam guardar velhas peças em casa do que jogá-los em qualquer lugar.
Não é todo mundo que entende as regras. Pereira conta que na Coopermiti já houve problemas com a entrega de TVs de tubo. O velho sistema de TV precisa passar por uma descontaminação especial. Para isso, a cooperativa cobra uma taxa de custo de R$ 5. “Muitos se recusam a pagar, dizem que por sermos ‘da prefeitura’ temos de pegar de graça. E saem falando que vão jogar a TV na rua mesmo.”
Relatório de 2010 da ONU aponta que Brasil é o terceiro país que mais joga fora televisores, perdendo apenas para México e China. O mesmo levantamento diz que o Brasil descarta 96,8 mil toneladas de computadores por ano e 17,2 mil toneladas de impressoras. Segundo o relatório, o Brasil é também o segundo maior gerador de lixo proveniente de celulares, com 2,2 mil toneladas por ano, perdendo apenas para a China.
As alternativas para o descarte correto desse lixo ainda são poucas. Enquanto isso, a rotatividade de nossos aparelhos não dá sinais de arrefecer. Uma projeção recente feita pela Samsung mostra que, em 2013, 50% dos celulares brasileiros serão smartphones, que ficarão mais acessíveis para faixas da população com renda menor.
Esse dado se relaciona com um levantamento feito pelo Clube Pitzi, empresa de seguro para celulares, que mostra que 50% dos usuários pretendem trocar de celular num período de seis meses a dois anos.
Pereira cita um estudo da USP que diz que cada residência tem cerca de três equipamentos eletrônicos aguardando destinação. “Se juntar tudo isso com a população de São Paulo, você vai ver que não estamos fazendo nem cosquinha. Mesmo se estivéssemos operando em capacidade máxima, a cidade precisaria de umas 20 Coopermitis.”

03 março 2013

Pesquisadores buscam na Antártica micróbios que purifiquem esgotos urbanos

http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/efe/2013/03/03/pesquisadores-buscam-na-antartica-microbios-que-purifiquem-esgotos-urbanos.htm


Manuel Fuentes.

Ilha Decepção (Antártica), 3 mar (EFE).- A Antártica é muito mais que geleiras, pinguins e baleias. Nem todos sabem, mas em seu subsolo há uma rica flora microbiana que pode servir para fins tão úteis quanto transformar os esgotos das cidades em canais de água limpa.

A pesquisadora francesa Léa Cabrol, uma jovem doutora de 29 anos que trabalha na Universidade Católica de Valparaíso, está realizando um trabalho de campo no continente mais inóspito do planeta.

Seu objetivo é contribuir para resolver um dos principais problemas das grandes cidades, fazer com que a água suja saia limpa e, de quebra, gerar gás metano para uso industrial.

A pesquisa, chamada "Seleção e Identificação de Consórcios Microbianos com Atividade Metanogênica e Acidogênica a Baixa Temperatura para Aplicação à Digestão Anaeróbica Siprofílica" impressiona já pelo nome.

Mas Léa explica o projeto de maneira sucinta e didática: "Estamos desenvolvendo o tratamento de águas residuais com bactérias".

"É um processo muito interessante, o problema é que funciona a 37 graus, enquanto a temperatura das águas residuais nas cidades europeias ou no sul do Chile, por exemplo, é muito mais baixa. O processo de aquecimento significa um custo enorme", comenta.

Acompanhada de seu assistente, o chileno Daniel Valenzuela, Léa colhe amostras de sedimentos depositados sob uma fina camada de gelo, na Ilha Rei George, onde chegou nos últimos dias a 49ª Expedição Antártica Chilena.

"Buscamos essas bactérias em fontes naturais, onde a temperatura sempre se mantém baixa. Esse tipo de microorganismo foi encontrado em algumas regiões do Ártico e na Rússia, mas não na Antártica", explica.

"A ideia é buscar sedimentos em zonas úmidas com uma camada superior de gelo ou neve que facilite a digestão anaeróbica, porque as bactérias que produzem metano não funcionam na presença de oxigênio", acrescenta.

Segundo a doutora francesa, que está há um ano e meio trabalhando no Chile, "descobrir bactérias dessa natureza em um meio como o antártico permitiria tratar as águas residuais de áreas frias do mundo, onde a temperatura média é de dez graus".

Mas, além disso, aponta seu assistente, as bactérias devem metabolizar a matéria orgânica dos esgotos em alta velocidade, porque o volume de líquido a tratar é muito grande e o processo não pode desacelerar.

Ao contrário de outros cientistas que participam da Expedição Antártica Chilena, essa equipe de pesquisa não procura apenas uma espécie de bactéria para isolá-la e cultivá-la no laboratório.

"Nós buscamos um consórcio, uma comunidade microbiana com centenas de espécies diferentes que trabalhem interagindo umas com outras", detalha a doutora Léa, que se mostra otimista sobre os resultados que possa alcançar o trabalho de campo.

"Acredito muito nas amostras que colhemos ontem (na ilha Rei George), porque havia muita matéria orgânica dos leões marinhos e isso é uma fonte de nutrientes para as bactérias. Além disso, nos poços de água se viam borbulhas, e isso indica que está saindo gás da camada de sedimentos", afirma.

Para uma bactéria desse tipo, se alimentar da matéria orgânica que há no solo antártico ou dos resíduos humanos dá exatamente no mesmo, porque envolve os mesmos processos metabólicos.

No projeto da pesquisadora participam a Universidade Católica de Valparaíso e a de Concepción no Chile, a Universidade de Lyon (França) e a Universidade Técnica da Dinamarca.

Após ser submetida à avaliação de duas comissões de microbiologista, em setembro do ano passado a pesquisa foi incorporada ao programa do Instituto Antártico Chileno (INACH), uma instituição pública que atualmente subsidia 64 projetos.

Até hoje, nenhuma instituição privada financia o estudo dessas microbactérias, mas algumas empresas, como a espanhola Águas Andinas, já mostraram seu interesse em outros projetos vinculados a essa pesquisa.

Após a coleta de amostras em várias partes do território antártico e a realização de análise preliminares, Léa Cabrol e sua equipe da Universidade Católica de Valparaíso terão mais três anos de trabalho em laboratório antes de saber se esses grupos microbianos finalmente servem para o objetivo que buscam.

Caso não sirvam, os cientistas continuarão tentando, "porque na pesquisa científica a questão é saber como é preciso enfrentar coisas que nem sempre funcionam, de aceitar o fracasso e buscar que na próxima vez as coisas saiam melhor", resume Léa.