02 setembro 2010

Elio Gaspari: ‘Quando a oposição perde, apita: PRIiii!’

Elio Gaspari: ‘Quando a oposição perde, apita: PRIiii!’

Há várias maneiras de perder uma eleição. Na melhor, mantém-se a altivez e eleva-se a estatura. Na pior, manda-se rebaixar o teto.

Enquanto aguarda pelo ajuste do seu pé-direito, a oposição, agachada diante da supremacia de Lula, leva os lábios ao apito.

Em artigo levado Às páginas desta quarta (1º), o repórter Elio Gaspari discorre sobre a a má qualidade do sibilo. Vai abaixo o texto:

“Quando a oposição brasileira é devastada pelo resultado eleitoral, alguém apita: ‘PRIiii!’. É um grito de advertência contra o perigo da instalação de um regime de partido único (de fato) no Brasil.

Algo parecido com a coligação de políticos, burocratas, sindicalistas e cleptocratas que governou o México de 1926 a 2000, boa parte do tempo sob a sigla do Partido da Revolução Institucionalizada.

O apito de PRI costumava soar depois da eleição. Agora ele veio antes, com um inoportuno componente de derrotismo. Ele soou em 1970, quando a popularidade do general Médici e os camburões da polícia esmagaram o MDB.

A oposição ficou com 87 das 310 cadeiras da Câmara, perdendo até o terço necessário para requerer uma CPI. O governo elegeu 42 senadores, perdendo apenas no Rio de Janeiro e na antiga Guanabara. Era o PRI.

Quatro anos depois, o MDB elegeu os senadores em 16 dos 22 Estados. Não se falou mais em PRI.

Em 1986, cavalgando o Plano Cruzado, o PMDB de José Sarney elegeu 22 governadores, 36 senadores e a maioria dos deputados. Novamente: PRI!

Três anos depois Fernando Collor de Mello elegeu-se presidente da República e, desde então, o apito calou-se, para voltar a ser ouvido agora.

Falar em PRI no Brasil quando o PSDB caminha para completar vinte anos consecutivos de poder em São Paulo é, no mínimo, uma trapaça. Sabendo-se que o PT conformou-se com uma posição subsidiária nas eleições para governadores, o espantalho torna-se risível.

É nessa hora que se deve olhar para o espantalho. Ele não é o que quer o tucanato abichornado, mas o paralelo histórico tem algo a informar.

O PRI surgiu depois de uma revolução durante a qual mataram-se três presidentes e desterraram-se outros dois. Seu criador não foi Emiliano Zapata, muitos menos Pancho Villa (ambos passados nas armas), mas um general amigo dos sindicatos e dos movimentos sociais.

Chamava-se Plutarco Elias Calles, assumiu em 1924, saiu em 28 e governou até 1935 por meio de prepostos, fazendo-se chamar de “Jefe Máximo”. Esse período da história mexicana é conhecido como ‘Maximato’.

A boa notícia para quem flerta com um Lulato é que Calles parece-se com Nosso Guia na política voltada para o andar de baixo e até mesmo fisionomicamente, sem barba.

A má notícia vai para a turma do mensalão. Um dia ‘El Jefe Máximo’ teve uma ideia e decidiu entregar o poder ao companheiro de armas Lázaro Cárdenas.

Encurtando a história, Cárdenas dobrou à esquerda, exilou meia dúzia de larápios do ‘Maximato’, inclusive um ex-presidente, e, em 1936, despachou o próprio Calles, que ralou cinco anos de exílio.

O que está aí para todo mundo ver é o Lulato, com Nosso Guia pedindo votos para sua candidata, e uma grande parte do eleitorado, consciente e satisfeita, dizendo que atenderá com muito gosto ao seu pedido.

Um país com a sofisticação econômica do Brasil, com a qualidade da sua burocracia e com o vigor de suas instituições democráticas não cai nas mãos de um PRI qualquer. Apitando-se, faz-se barulho, e só.

O problema da oposição brasileira, com sua vertente demófoba, chama-se Lula, ‘El Jefe Máximo’, que o embaixador Celso Amorim chamou de Nosso Guia e Dilma Rousseff qualificou como o ‘grande mestre, ele nos ensinou o caminho’.

O perigo mexicano virá quando Nosso Guia achar que se tornou ‘El Jefe Máximo’ do seu imperial Lulato".