19 setembro 2010

Foco da saúde está errado, dizem médicos

Foco da saúde está errado, dizem médicos

Para especialistas, UPAs de Dilma Rousseff (PT) e AMEs de José Serra (PSDB) são prioridades equivocadas

Profissionais apontam que ampliar números de posto de saúde e equipe de Saúde da Família traz resultados melhores


RICARDO WESTIN
DE SÃO PAULO

Quando o tema é saúde, duas siglas são repetidamente pronunciadas pelos principais candidatos a presidente.
A petista Dilma Rousseff promete levantar 500 UPAs (prontos-socorros 24 horas). O tucano José Serra pretende abrir 154 AMEs (clínicas com médicos especialistas).
Especialistas em saúde concordam que há carência de prontos-socorros e clínicas com especialistas, mas fazem um alerta: UPA e AME são prioridades equivocadas.
Para eles, as promessas dos candidatos deveriam ser melhorar e multiplicar os postos de saúde e as equipes de Saúde da Família -a "porta de entrada" do SUS (Sistema Único de Saúde).
Cada equipe de Saúde da Família se responsabiliza por um bairro e periodicamente visita todas as casas. Ensina as famílias a evitar doenças, faz diagnóstico precoce e acompanha os tratamentos.
Os postos de saúde, que devem estar espalhados pela cidade, oferecem consultas agendadas com clínicos, pediatras e ginecologistas.
PORTA DE ENTRADA
O raciocínio é simples: a "porta de entrada" deve ser a prioridade porque, ao cuidar das necessidades básicas de saúde, evita que as pessoas adoeçam ou, já doentes, tenham complicações e precisem do serviço especializado do AME ou da UPA.
Um exemplo: se a pessoa teve um diagnóstico precoce de hipertensão, toma os remédios e se consulta no posto de saúde a cada três meses, ela dificilmente sofrerá dos desdobramentos da pressão alta, como um infarto ou um AVC. Assim, não terá de ser levada de emergência para uma UPA.
"Os candidatos não falam da atenção básica à saúde porque não tem apelo para o eleitor, não rende voto", afirma Ligia Giovanella, médica e pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública.
Calcula-se que 85% das necessidades de saúde da população possam ser resolvidas pelos postos de saúde e pelo Saúde da Família.
Só os 15% restantes precisariam de prontos-socorros, de hospitais e de especialistas -mais caros do que a "porta de entrada".
"Priorizar UPA e AME é tapar o sol com a peneira", concorda o médico Nelson Rodrigues dos Santos, diretor do Centro Brasileiro de Estudos da Saúde. "Mas é o que dá ibope aos candidatos."

CARÊNCIAS
A "porta de entrada" -que é financiada pela União, pelos Estados e pelos municípios- tem muitas carências.
No Estado do Rio, só 31,3% da população é coberta pelas equipes de Saúde da Família. A cidade do Rio tem 171 postos de saúde -pelos parâmetros do Ministério da Saúde, deveria ter no mínimo 206.
Para Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, a implantação de UPAs e AMEs -sem as equipes de Saúde da Família e os postos de saúde necessários- desorganiza o SUS. Ambos, no fim, também ficam lotados.
"O paciente que não consegue consulta no posto de saúde e acaba procurando a UPA. Mas fica horas na fila e, quando é atendido, ouve do médico que o caso dele não é de emergência", diz.
E continua: "No posto de saúde, diante de qualquer dorzinha no peito, o médico vai mandar o paciente para o cardiologista do AME. Qualquer diarreia, para o gastro. Ganhando uma miséria no SUS, médico nenhum quer assumir responsabilidade".
Na opinião de Lopes, os assessores de ambos os candidatos "enxergam a saúde pela janela dos gabinetes".
Dilma defende policlínicas semelhantes aos AMEs. Serra quer mutirões de cirurgias de catarata, hérnia e próstata.
Segundo o médico Gilson Carvalho, consultor do Conasems (entidade dos secretários municipais de saúde), o mutirão é emergencial e não pode virar política de saúde.
"O paciente precisa ser atendido quando precisa, e não quando há número suficiente para um mutirão."

Serra tem "prazer do trapaceiro"

São Paulo, domingo, 19 de setembro de 2010





ESTÁ NA CARA

Serra tem "prazer do trapaceiro"

DAVID MATSUMOTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Esta semana analisei o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, através de um vídeo que ele gravou para Dilma Rousseff no Dia da Independência.
Ele parece bastante intenso, provavelmente bravo e amargo com a campanha eleitoral. Diversas vezes, tensiona as pálpebras e abaixa suas sobrancelhas não apenas para intensificar o que está falando, mas também para mostrar sua irritação.
Dado o conteúdo do discurso, me pareceu que suas expressões eram apropriadas. Quando ele menciona "nosso adversário", ele passa uma grande repugnância, o que parece demonstrar bem a intensidade de seu sentimento sobre a questão.
Lula também dá um rápido microssorriso para dizer que os "brasileiros saberão repelir" a campanha rival. Foi um sorriso de convicção. Fiquei com uma forte impressão de seus sentimentos, fortes e honestos. O segundo vídeo que analisei trouxe o candidato do PSDB, José Serra. Mais uma vez não fiquei com uma boa impressão do que vi.
Por exemplo, quando ele fala que está "indignado" com o escândalo do sigilo fiscal violado de seu genro, ele está sorrindo. Eu não vejo muita indignação. Suas expressões faciais eram muito inconsistentes com o que ele estava falando.
Ele dá o mesmo microssorriso quando fala que os crimes não são contra ele pessoalmente e sim contra o próprio Brasil. Quando diz que o PT debocha das vítimas, percebi outro microssorriso. Serra amplifica seu discurso de forma apropriada com gestos e expressões faciais, mas sem emoção. Parece que estava tentando muito convencer o espectador de sua sinceridade, mas, com esses exemplos que eu citei, suas expressões foram totalmente inconsistentes com sua fala.
Penso que esses podem ser exemplos do que chamamos de "dupers delight", algo como "prazer dos trapaceiros", nos quais uma pessoa que não é totalmente franca está curtindo em não ser totalmente franca.

Em depoimento a FERNANDA EZABELLA, em Los Angeles

DAVID MATSUMOTO é professor de psicologia da Universidade de San Francisco (EUA) e fundador da Huminell, empresa de serviços para análises de comportamento não-verbal.

13 setembro 2010

Economia de baixo carbono deve triplicar até 2020

Economia de baixo carbono deve triplicar até 2020

Setor de veículos elétricos deverá crescer vinte vezes, movimentando US$ 473 bilhões

10 de setembro de 2010 | 15h 08
Com informações de agências internacionais

Relatório do banco HSBC divulgado esta semana afirma que a economia de baixo carbono deverá triplicar até 2020, atingindo a cifra de US$ 2,2 bi. O setor mais beneficiado será o de veículos elétricos, que deverá crescer vinte vezes, movimentando US$ 473 bilhões - ou seja: um quinto de todo o mercado mundial de baixo carbono. O setor de energias renováveis pode crescer 9,4% anualmente - mercado que representaria mais de US$ 500 bilhões em 2020. O relatório afirma ainda que o nicho dos transportes públicos deverá movimentar US$ 677 bilhões até lá - o que pode fazer com que o setor de transportes ultrapasse o de energia na corrida pelo desenvolvimento limpo.

O documento aponta que devem ser vendidos 8,65 milhões automóveis movidos a eletricidade nos próximos dez anos - previsão bem mais otimista do que a da JD Power Automotive, que aponta que cerca de 2 milhões de veículos elétricos deverão estar nas ruas até 2020. Ambas as expectativas ainda figuram longe dos 61 milhões de veículos convencionais vendidos em 2009, mas representam um salto considerável com relação aos 5 mil carros elétricos comercializados no mesmo período.

A expectativa de que nos próximos anos dezenas de milhares de carros elétricos estejam circulando na Europa, EUA e Ásia remete ao avanço tecnológico que possibilitou que os veículos agora oferecidos pelos fabricantes tenham autonomia bem maior que a de seus predecessores - o que aumenta a utilidade e o apelo do carro elétrico junto ao consumidor.

Mas assim que esses veículos estiverem aparecendo nas ruas, um problema estrutural deverá se colocar: onde recarregá-los? Alguns experts acreditam que os veículos elétricos devem ser recarregados em casa ou no trabalho. Outros defendem uma rede global de postos de recarga. Uma companhia proeminenjte está lançado a ideia de que existam postos em que o consumidor possa rapidamente trocar sua bateria "quase morta" por uma recarregada. Outros ainda advogam que os "problemas" de carros movidos apenas a eletricidade podem ser evitados se for focada a produção e comercialização de híbridos: movidos a eletricidade e gasolina.

"A introdução dos veículos elétricos no mercado é mais que um problema financeiro", afirma Sam Jaffe, analista e gerente de pesquisa do IDC Energy Insights. "Trata-se de um grande experimento antropológico. Não há dúvida de que é um processo cheio de retrocessos e vantagens. E requer um rearranjo na mentalidade dos consumidores", completa.

Corrida

A corrida das companhias para colocar seus veículos elétricos no mercado está ficando quente. O i-MiEV, da Mitsibishi Motors, está sendo comercializado no Japão desde abril, e em poucos meses estará disponível na Europa e nos EUA. A montadora japonesa está fazendo duas versões do carro para a francesa PSA Peugeot Citroen.

A Nissan vai lançar seu Leaf em dezembro, enquanto a Renault vai começar a vender o Fluence ZE (emissão zero) na primeira metade do ano que vem. Maior montadora européia, a Volkswagen - última a entrar na competição - planeja lançar versões elétricas de seus veículos em 2013, embora afirme que por volta de 2018 cerca de 3% das vendas da companhia serão de carros elétricos.




Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel não modificou indicadores ambientais

Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel não modificou indicadores ambientais

Constatação está no livro \"Ensaios sobre Biocombustíveis\", que será lançado segunda-feira na USP Ribeirão Preto

10 de setembro de 2010 | 22h 31
Karina Ninni - estadao.com.br

Embora tenha melhorado os indicadores sócio-econômicos dos agricultores que produzem soja e mamona para a obtenção de biodiesel, o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) não mostrou a mesma eficácia com relação aos indicadores ambientais. Estas e outras observações foram feitas pela professora de Direito da USP Ribeirão Preto, Flavia Trentini, em sua pesquisa para o pós-doutorado. Flavia faz questão de frisar que os resultados são relativos à amostragem de 60 produtores entrevistados em Quixadá, no Ceará, e em Cachoeira do Sul, no Rio Grande do Sul, em julho do ano passado. As regiões vendem, respectivamente, mamona e soja para empresas fabricantes de biodiesel.

"O PNPB foi lançado pelo governo federal em 2005 para implementar de maneira sustentável a produção e o uso do biodiesel. Foi criado também um selo, o Combustível Social, para empresas que adquirem matéria-prima de agricultores familiares, promovendo inclusão social e incentivando ao comércio justo. Só que não conseguimos ver, ainda, mudanças em indicadores ambientais como cuidados com os recursos hídricos, preservação de Áreas de Proteção Permanente e Reservas Legais ou alocação consciente de resíduos sólidos", resume Flavia, afirmando que esses indicadores permaneceram inalterados. A pesquisadora lança, na segunda-feira, em Ribeirão Preto, dois livros sobre o assunto, em co-autoria com outros pesquisadores.

"Sustentabilidade: o desafio dos biocombustíveis" foi escrito em parceria com sua orientadora de pós-doutorado, Maria Sylvia Saes, professora associada da Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA/USP). Já "Ensaios sobre Biocombustíveis" reúne diversos artigos escritos por especialistas no assunto, sob organização de Flávia, Sylvia e do pesquisador Fernando Campos Scaff. Os resultados que apontam para a inexistência de alteração nos indicadores ambientais depois da comercialização da mamona e da soja usadas para fazer o biodiesel estão no artigo que Flávia assina no segundo título. As publicações, que serão distribuídas gratuitamente, saem pela editora Annablume e tiveram patrocínio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Êxitos sociais

O trabalho de Flavia mostra que as condições de vida melhoraram para 84% dos agricultores do Rio Grande do Sul e 39% para os do Ceará.

"Grosso modo, de acordo com minha amostragem, posso dizer que no Ceará a venda da mamona está possibilitando a geração de renda extra - renda que os agricultores não tinham, pois trabalhavam muito com agricultura de subsistência. Essa renda extra é direcionada, basicamente, para a compra de alimentos, para a subsistência mesmo. Já no Rio Grande do Sul, a venda da soja para obtenção de biodiesel está gerando um 'plus' para os agricultores, que é quase totalmente direcionado para a aquisição de maquinário e de insumos", resume Flavia.

A pesquisadora diz que não esperava encontrar nem mesmo resultados positivos para os indicadores sócio-econômicos na pesquisa de campo. "O programa foi lançado em 2005, mas vem sendo implementado nas regiões que estudei desde 2008. É pouquíssimo tempo para aferir resultados, em se tratando de uma política pública", explica.

Embora os tamanhos das propriedades variem entre os dois estados, a princípio, não influenciam o cuidado dos produtores com o meio ambiente, de acordo com a pesquisadora. No Ceará, onde 64% dos agricultores responderam que possuem áreas não cultivadaas, as propriedades pesquisadas têm, em média, 23,69 hectares, enquanto no Rio Grande do Sul, onde 80% dos entrevistados disse preservar áreas de floresta, a média de tamanho das propriedades é de 61,10 hectares.

Outra curiosidade da pesquisa é relativa à conservação dos recursos hídricos. No Nordeste, 91% dos entrevistados disse não jogar qualquer tipo de resíduo nos corpos hídricos, enquanto no Sul esse porcentual cai para 75%. "Em uma análise muito superficial, podemos dizer que talvez a escassez do recurso esteja por trás dessa diferença no cuidado com a água observada em favor do Nordeste", diz Flavia, com cautela.

União precisará investir R$ 8 bi para garantir inclusão

União precisará investir R$ 8 bi para garantir inclusão

Estudo mostra que esse é o valor necessário para garantir que gasto por aluno não diminua após a ampliação do ensino obrigatório

Priscilla Borges, iG Brasília | 13/09/2010 07:00

O governo federal precisará investir R$ 7,9 bilhões a mais por ano na educação básica para garantir que as metas de inclusão dos estudantes de 4 e 5 anos e de 15 a 17 anos nas escolas do País sejam cumpridas até 2016. O cálculo é de dois pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), José Marcelino de Rezende Pinto e Thiago Alves.

A partir da aprovação da Emenda Constitucional nº 59, ocorrida em novembro de 2009, o Brasil deixará os atuais nove anos obrigatórios de ensino para chegar a 14. A difícil tarefa pretende melhorar a escolaridade da população brasileira, que, segundo o IBGE, é aproximadamente 7,2 anos de estudo. Marcelino e Alves decidiram investigar o impacto financeiro da aprovação da medida. A preocupação dos pesquisadores é com a quantia que passará a ser investida por Estados e municípios por cada aluno após a entrada do contingente de quase 4 milhões de estudantes nas redes escolares até 2016.

“A ampliação é importante, mas temos receio de que o recurso gasto por aluno diminua e o dinheiro, que já é pouco, tenha de ser dividido ainda mais”, afirma Thiago Alves, doutorando em administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP.

Os Estados e os municípios são os responsáveis por oferecer a educação básica aos estudantes brasileiros. A maioria dos municípios se sustenta com os recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), que hoje destina cerca de R$ 83 bilhões à educação.

Esse montante é formado, em sua maior parte, por recursos arrecadados pelos Estados e municípios. Eles são distribuídos de acordo com a quantidade de alunos de cada rede e a partir de um valor mínimo por aluno. O governo federal contribui com o fundo – com um percentual sobre o total, que chega a R$ 6,8 bilhões este ano – para complementar a renda dos municípios mais pobres a cumprir com esse investimento mínimo por aluno.

É essa participação federal que precisa aumentar, segundo os especialistas. “Muitos municípios não têm recursos próprios. Não têm de onde tirar mais dinheiro. A União, apesar de não ser responsável por isso, precisa contribuir mais com a educação básica”, defende Alves. Ele lembra que o País gasta, em média, apenas R$ 188 por mês por aluno na educação básica.

O estudo dos pesquisadores foi feito com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2008. Os dados mais recentes foram divulgados esta semana. À época, eles calcularam o número de estudantes que precisava ser incluído em 3,9 milhões. Agora, o número está próximo de 3,6 milhões.

Desigualdades

Os pesquisadores alertam que as redes municipais e estaduais terão de fazer planejamentos conjuntos para aproveitar melhor a infraestrutura que terá de ser construída – para que não fique ociosa depois – e diminuam as desigualdades de distribuição dos recursos.

Lembram também que é preciso conhecer o perfil da população que precisa ser incluída para que as metas sejam cumpridas. Os dados da PNAD mostram que os estudantes na faixa de 4 a 17 anos que estão fora da escola são pobres, pardos ou negros, moram na área rural e os pais não foram escolarizados.

“União, Estados e municípios deverão fazer um esforço adicional nos próximos cinco anos da ordem de 0,3% do PIB tão somente para garantir que os valores por aluno do Fundeb não sofram redução. Mas é preciso avançar para um padrão de financiamento que assegure qualidade aceitável para as escolas públicas”, reforça Alves.

12 setembro 2010

Estudo: Brasil está entre os 10 países mais desiguais do mundo

Estudo: Brasil está entre os 10 países mais desiguais do mundo
12 de setembro de 2010 15h54 atualizado às 16h04

O economista-chefe do Centro de Políticas Sociais, vinculado à Fundação Getulio Vargas (FGV), Marcelo Côrtes Neri, afirmou que a baixa escolaridade da população brasileira mantém o País entre as dez nações mais desiguais do mundo. "Ainda estamos no top 10 da desigualdade mundial", disse.

Análise publicada pelo economista na mostrou que, desde 1996, há redução do índice de Gini. O indicador, que mede a concentração de renda (quanto mais perto de 1, maior a desigualdade), caiu de 0,6068, naquele ano, para 0,5448, em 2009.

Apesar da queda, o índice brasileiro é superior ao de países como os Estados Unidos (em torno de 0,400) e da Índia (0,300) e está próximo ao de nações mais pobres da América Latina e do Caribe e da África Subsaariana. "Saímos do pódio, mas ainda estamos entre os mais desiguais", afirmou o economista.

Segundo Neri, para diminuir a desigualdade, é preciso que a renda das classes mais baixas continue crescendo, que se mantenham programas sociais focados na população mais pobre e, sobretudo, que o Estado amplie a oferta de educação de mais qualidade e as pessoas permaneçam na escola.

O sociólogo e cientista político Simon Schwartzman, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), disse que "a educação no Brasil é muito ruim" e que há um "excesso de valorização" da escolaridade, o que explica a grande diferença salarial entre quem tem curso superior e quem não tem nenhuma formação. Para ele, o desempenho educacional "não tem melhorado muito" e, portanto, nos próximos dez anos o quadro de desigualdade permanecerá.

Para o gerente da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Cimar Azeredo, o Brasil tem "mazelas que não se desfazem de uma década para outra". Ele citou a diferença entre a renda de homens e mulheres, brancos e negros. "O passivo é muito grande. Somos há muito tempo um País desigual".

O estatístico e economista Jorge Abrahão de Castro, diretor de Estudos e Políticas Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), confirmou que o País ainda vive "as sequelas do passado" demonstradas, por exemplo, na última Pnad, que, além da desigualdade perene, indicou que um em cada cinco brasileiros com 15 anos ou mais tem menos de quatro anos de estudo.

De acordo com a Pnad, o percentual de crianças e adolescentes de 6 a 14 anos na escola em 2009 era de 97,6%. Na avaliação dos especialistas, a permanência dessas crianças na escola resultará em melhoria de renda no futuro.

Para Marcelo Neri, da FGV, a chamada nova classe média brasileira, com mais de 95 milhões de pessoas, é formada por crianças e adolescentes que entraram e permaneceram na escola nos anos 90, quando houve universalização do acesso ao ensino.

Agência Brasil

08 setembro 2010

Educação impede que País ganhe poder, diz ‘New York Times’

Radar Econômico

Educação impede que País ganhe poder, diz ‘New York Times’

8 de setembro de 2010 | 17h09

Sílvio Guedes Crespo

Para explicar aos norte-americanos o “buraco” que existe na educação brasileira, o jornal “The New York Times” foi pessoalmente à terra do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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O correspondente Alexei Barrionuevo desembarcou em Caetés, Pernambuco, e comparou a vida de Lula quando criança com a dos meninos que vivem hoje na cidade. O jornalista chegou a uma conclusão empírica e outra que poderia ser chamada de teórica, abstrata, baseada em números.

A empírica é a de que, diferentemente do que ocorria no tempo de Lula – que quando menino apanhava de seu pai quando ia à escola em vez de trabalhar –, as crianças são incentivadas pelos pais para ir à escola, uma vez que isso é uma condição para receber o Bolsa Família.

O ponto negativo é que os pais ainda não enxergam o estudo como uma oportunidade real de melhorar de vida, na opinião de uma professora de local ouvida pelo “Times”. Ao menos por enquanto, é mesmo o dinheiro que move os adultos a colocarem seus filhos para estudar.

A conclusão teórica é mais cética. Para Barrionuevo, a educação ainda é “a pedra na qual o Brasil tropeça quando tenta acelerar sua economia e estabelecer-se como uma das nações mais poderosas”. Na visão estrangeira do autor, esse problema é uma “grande fraqueza na jovem armadura brasileira”.

E fica mesmo difícil discordar, quando observamos alguns dados citados no texto:

- O Brasil ficou em 49º lugar entre 56 países que participaram do Programa para Avaliação Internacional dos Estudantes;

- Mais da metade dos alunos brasileiros participantes dessa prova tirou a nota mínima no teste de leitura – “em matemática e ciência, o resultado foi ainda pior”, diz a reportagem;

- Alunos de 15 anos no Brasil têm o mesmo nível de conhecimento de crianças de 9 ou 10 na Dinamarca e na Finlândia;

- A repetência é muito alta. Em escola visitada pelo “Times”, há alunos de 13 e de 17 anos na mesma classe;

- O índice de repetência é um dos maiores do mundo no primário, de 28%, segundo o Banco Mundial;

- Mais de 22% dos 25 milhões de brasileiros disponíveis no mercado de trabalho não tê, a qualificação adequada para preencher as vagas demandadas pelas empresas, segundo o Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas);

Mas há também dados positivos. A reportagem destaca que, sob o governo Lula, foram construídas 180 escolas técnicas, “comparadas com as 140 criadas nos 93 anos anteriores”.

Leia a reportagem completa no site do “New York Times” (em inglês)

02 setembro 2010

Elio Gaspari: ‘Quando a oposição perde, apita: PRIiii!’

Elio Gaspari: ‘Quando a oposição perde, apita: PRIiii!’

Há várias maneiras de perder uma eleição. Na melhor, mantém-se a altivez e eleva-se a estatura. Na pior, manda-se rebaixar o teto.

Enquanto aguarda pelo ajuste do seu pé-direito, a oposição, agachada diante da supremacia de Lula, leva os lábios ao apito.

Em artigo levado Às páginas desta quarta (1º), o repórter Elio Gaspari discorre sobre a a má qualidade do sibilo. Vai abaixo o texto:

“Quando a oposição brasileira é devastada pelo resultado eleitoral, alguém apita: ‘PRIiii!’. É um grito de advertência contra o perigo da instalação de um regime de partido único (de fato) no Brasil.

Algo parecido com a coligação de políticos, burocratas, sindicalistas e cleptocratas que governou o México de 1926 a 2000, boa parte do tempo sob a sigla do Partido da Revolução Institucionalizada.

O apito de PRI costumava soar depois da eleição. Agora ele veio antes, com um inoportuno componente de derrotismo. Ele soou em 1970, quando a popularidade do general Médici e os camburões da polícia esmagaram o MDB.

A oposição ficou com 87 das 310 cadeiras da Câmara, perdendo até o terço necessário para requerer uma CPI. O governo elegeu 42 senadores, perdendo apenas no Rio de Janeiro e na antiga Guanabara. Era o PRI.

Quatro anos depois, o MDB elegeu os senadores em 16 dos 22 Estados. Não se falou mais em PRI.

Em 1986, cavalgando o Plano Cruzado, o PMDB de José Sarney elegeu 22 governadores, 36 senadores e a maioria dos deputados. Novamente: PRI!

Três anos depois Fernando Collor de Mello elegeu-se presidente da República e, desde então, o apito calou-se, para voltar a ser ouvido agora.

Falar em PRI no Brasil quando o PSDB caminha para completar vinte anos consecutivos de poder em São Paulo é, no mínimo, uma trapaça. Sabendo-se que o PT conformou-se com uma posição subsidiária nas eleições para governadores, o espantalho torna-se risível.

É nessa hora que se deve olhar para o espantalho. Ele não é o que quer o tucanato abichornado, mas o paralelo histórico tem algo a informar.

O PRI surgiu depois de uma revolução durante a qual mataram-se três presidentes e desterraram-se outros dois. Seu criador não foi Emiliano Zapata, muitos menos Pancho Villa (ambos passados nas armas), mas um general amigo dos sindicatos e dos movimentos sociais.

Chamava-se Plutarco Elias Calles, assumiu em 1924, saiu em 28 e governou até 1935 por meio de prepostos, fazendo-se chamar de “Jefe Máximo”. Esse período da história mexicana é conhecido como ‘Maximato’.

A boa notícia para quem flerta com um Lulato é que Calles parece-se com Nosso Guia na política voltada para o andar de baixo e até mesmo fisionomicamente, sem barba.

A má notícia vai para a turma do mensalão. Um dia ‘El Jefe Máximo’ teve uma ideia e decidiu entregar o poder ao companheiro de armas Lázaro Cárdenas.

Encurtando a história, Cárdenas dobrou à esquerda, exilou meia dúzia de larápios do ‘Maximato’, inclusive um ex-presidente, e, em 1936, despachou o próprio Calles, que ralou cinco anos de exílio.

O que está aí para todo mundo ver é o Lulato, com Nosso Guia pedindo votos para sua candidata, e uma grande parte do eleitorado, consciente e satisfeita, dizendo que atenderá com muito gosto ao seu pedido.

Um país com a sofisticação econômica do Brasil, com a qualidade da sua burocracia e com o vigor de suas instituições democráticas não cai nas mãos de um PRI qualquer. Apitando-se, faz-se barulho, e só.

O problema da oposição brasileira, com sua vertente demófoba, chama-se Lula, ‘El Jefe Máximo’, que o embaixador Celso Amorim chamou de Nosso Guia e Dilma Rousseff qualificou como o ‘grande mestre, ele nos ensinou o caminho’.

O perigo mexicano virá quando Nosso Guia achar que se tornou ‘El Jefe Máximo’ do seu imperial Lulato".