29 agosto 2010
17 agosto 2010
O R7 e a imparcialidade nas eleições

O R7 e a imparcialidade nas eleições
Enviado por luisnassif, ter, 17/08/2010 - 12:32Por Márcio Xavier
o R7 acordou pra vida?
Do R7
Capa da Época provoca polêmica sobre imparcialidade nas eleições
Publicação da Editora Globo associou imagem da candidata do PT à luta armada
Do R7
A menos de dois meses do dia da eleição, o “vale tudo” das campanhas começa a tomar conta do noticiário de alguns veículos de comunicação que, segundo especialistas ouvidos pelo R7, favorecem algum dos lados mesmo sem declarar publicamente. Nesta semana, a polêmica da vez é a capa da revista Época, da Editora Globo, que retrata a atuação da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff (PT), durante o período da ditadura militar (1964-1985), dando destaque especial à sua participação em movimentos de luta armada.
Para o sociólogo e jornalista Laurindo Lalo Leal Filho, professor da ECA (Escola de Comunicação e Artes) da USP (Universidade São Paulo) e fundador da ONG Tver, voltada para o acompanhamento da qualidade da televisão brasileira, a imprensa tem papel fundamental no processo eleitoral.
Ele defende que veículos impressos declarem seus votos, como fez a revista Carta Capital ao escrever um editorial listando os motivos pelos quais defende a candidatura de Dilma.
Capa polêmica da Época desta semana Foto: Reprodução
Para Lalo, no entanto, por se tratar de concessões públicas, emissoras de rádio e de televisão não deveriam favorecer nenhum lado.
- O distanciamento do rádio e da televisão é fundamental. Devem participar, mas dando a oportunidade a todos os partidos. É mais complicada a participação dos meios eletrônicos porque rádio e televisão são concessões públicas. É ruim para a democracia que esse espaço seja privatizado.
Ele aponta como exemplo de favorecimento as entrevistas que os candidatos à Presidência concederam ao Jornal Nacional, principal telejornal da TV Globo.
- Enquanto a candidata do governo era inquirida, de uma forma até bastante ríspida, os entrevistadores tinham uma nítida tendência a impulsionar o candidato da oposição.
Em nota, a emissora negou na semana passada ter favorecido qualquer um dos candidatos na série de entrevistas.
Lalo ainda diz que a reportagem que mostra Dilma como guerrilheira, publicada pela revista Época, deve ser reproduzida durante os programa eleitorais no rádio e na TV, dando mais destaque para a imagem negativa da petista.
- Isso é feito para ser usado no horário eleitoral, não é a toa que é publicada na mesma semana [que os programas começam a ir ao ar]. Ela não tem tanta relevância sozinha, até porque a tiragem da revista é baixa. A importância talvez seja para ser mostrada no programa.
Cientista político
A cientista política e professora da UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos) Maria do Socorro - que também defende que revistas e jornais declarem voto – diz que reportagens como a da Época, publicada às vésperas do início da propaganda eleitoral gratuita, podem pegar de surpresa os eleitores menos informados.
- Acho que é um pouco retornar àquela velha cultura de jogar assuntos que levem ao medo, que aterrorizam o eleitor.
Ela lembra que o primeiro “jogo sujo” da oposição à Dilma nesta campanha foi ligar o PT às Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
- Quando há a possibilidade de perder num primeiro turno, usa-se todos os meios para desconstruir a candidatura que lidera. A tendência, agora, será a de abrir fogo contra Dilma.
Processo
O advogado responsável pela campanha petista, Márcio Silva, afirmou ao R7 que, até agora, ninguém da coordenação pediu que ele processasse a Época, ao contrário do que aconteceu com a revista Veja, obrigada a publicar um direito de resposta em suas páginas por ter vinculado Dilma às Farc.
O advogado defende que, antes da campanha, jornais e revistas declarem quem é seu candidato preferido. Ele diz ainda que o sigilo dos patrocinadores de jornais e revistas deveria ser quebrado para que o leitor saiba se quem paga para mandar a publicação para a banca tem interesses eleitorais.
- Os jornais e revistas deveriam explicitar o lado em que estão e mostrar quem os patrocinam. Isso teria de ser escancarado.
Procurada pelo R7, a Editora Globo não se manifestou sobre o assunto até a publicação da reportagem.
Publicação original: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-r7-e-a-imparcialidade-nas-eleicoes?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter
09 agosto 2010
03 agosto 2010
Vendem-se casas-grandes e senzalas
Terça, 3 de agosto de 2010, 08h12
Vendem-se casas-grandes e senzalas
Rui Daher
De São Paulo
Mais do que um território de formidáveis extensão e diversidade, fartamente receptivo à atividade agropecuária, herdamos de Portugal um processo de colonização relativamente afável.
Diz Gilberto Freyre, em "Casa-Grande e Senzala" (Livraria José Olympio Editora, 22ª edição, 1983, RJ): "O colonizador português no Brasil foi o primeiro dentre os modernos a deslocar a base da colonização tropical da pura extração de riqueza mineral, vegetal ou animal (...) para a de criação local de riqueza".
É uma referência tanto à destruição espanhola nos México e Peru, por exemplo, quanto às grandes plantações de açúcar, sobretudo, em Pernambuco e no Recôncavo da Bahia, que embora tenham se desenvolvido de forma patriarcal e aristocrática não o foram "em grupos a esmo e instáveis mas em casas-grandes de taipa (...) não em palhoças de aventureiros".
É certo que Freyre, e daí a essencialidade de sua obra, mostra um olhar benevolente, adocicado, da escravidão no período colonial. Um hábito que perdura no imaginário das elites nacionais depois de mais de cinco séculos. Não à toa, supôs-se aqui não haver preconceito racial e, antes de se tornarem áreas conflagradas pelo narcotráfico, a pobreza dos morros cariocas se prestou a poéticas homenagens.
Essas vocações seculares podem ainda ser compradas em estado bruto. Tanto aqui, onde predomina a produção da casa-grande, como na África, onde a senzala precisa, antes de exportar, produzir para matar sua fome.
Motivo para se discutir seriamente a compra de terras agricultáveis por estrangeiros em países pobres das América Latina, Ásia e África. O Brasil, pelas características acima, é o pitéu cobiçado desse banquete, tanto que viu nos três últimos anos crescer vertiginosamente o preço de suas terras.
Diante da recente escalada mundial dos preços dos alimentos e da futura escassez de fatores essenciais para a produção agropecuária, vários países estão tratando de assegurar alimentos e bioenergia para seus consumos plantando e colhendo na casa dos outros.
Nem tanto governos, mas grandes investidores, corporações privadas, fundos de pensão e hedge, já perceberam que entre os principais ativos as terras serão os de maior valorização. Estima-se que no período de apenas um ano de 15 a 20 milhões de hectares foram adquiridos por investidores com esse perfil. E aí já não estamos mais falando de segurança alimentar, mas de reserva de valor.
Na África, crescem arrendamentos por prazos que vão de 50 a 99 anos sem estarem associados a projetos de desenvolvimento local. No Brasil, segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário, há 4,3 milhões de hectares de propriedade estrangeira, sem contar que é considerada nacional qualquer pessoa física com domicílio no país.
Não há, assim, qualquer sinal de nacionalismo xenófobo quando o governo brasileiro discute estabelecer restrições à compra de terras por estrangeiros. É uma discussão que deveria se intensificar nas entidades patronais da agropecuária e nos movimentos sociais nela envolvidos.
A posse da terra, tão disputada e mendigada quando se trata de acolher assentados e servir de patrimônio e trabalho para famílias rurais, é entregue a mancheias para capitais estrangeiros, especulativos ou não.
Estamos falando de dezenas, às vezes centenas, de milhares de hectares numa única transação, extensões impossíveis de serem creditadas a quem cultiva em pequenas propriedades. Mas são estas que recebem a condenação do patronato quando vendem um lote recebido do governo.
Qual deles um caso de soberania nacional?
Fale com Rui Daher: rui_daher@terra.com.br
