10 abril 2010

Viver, um exercício de tolerância

Costumo me esquivar de frases de (pretenso) efeito, citações etc. Mas de um tempo para cá essa idéia tem sido recorrente na minha cabeça.
Digo isso porque historicamente já vimos guerras e genocídios motivados por ela e a cada dia a intolerância ganha mais força, seja ela cultural, religiosa, social etc. Estou me convencendo a cada dia que teremos de conviver com ela ainda por muito tempo.
Mas por que, logo no primeiro texto que escrevo nesse blog, estou com esse papo pseudo-filosófico?!
Ontem estava em um bar em Recife (onde moro há alguns meses) com alguns amigos (todos não-pernambucanos). Entre uma cerveja e outra, me assustei com a afirmação de um de meus colegas de que, se eventualmente viesse a ter um filho pernambucano, o proibiria de chamá-lo de "painho". Logo pensei que fosse brincadeira, quem nunca fez uma do gênero? Mas a feição dele não deixava dúvidas: estava falando sério (e muito). Disse que não admitiria que um filho seu falasse daquele jeito "errado" (sic).
Ora, se meu amigo estivesse certo, deveríamos proibir nossos filhos de chamar-nos de papai ou mamãe pois essas formas seriam tão "erradas" quanto as que ele critica.
Ou seja, não se trata de certo ou errado. O que eu ouvi ontem foi simplesmente um reflexo de uma pretensão de superioridade que alimenta a intolerância. Não que meu colega seja má pessoa, longe disso, mas acho ele é mais um integrande de uma sociedade multicultural localizada em um país de proporções continentais que não aprendeu a conviver com as diferenças. Pior: até aprendeu a conviver, mas não a respeitar.
Essa distinção é importante porque, quando mudamos de escala, encontro algumas explicações do porquê de sermos um país com tantas feridas abertas: somos racistas, mas não admitimos. Jovens se matam pelos motivos mai torpes como torcer para times diferentes. Negros, gays e nordestinos são mortos por neo-nazistas que, por ironia ou mera ignorância, se julgam arianos se esquecendo da pluralidade étnica de seus DNAs. Sem contar os índios que são queimados e mendigos surrados até a morte por filhos de castas "respeitáveis" da nossa sociedade.
Escrever tanto só porque alguém não gosta do sotaque e expressões nordestinas pode parecer exagerado. Será que era para tanto? Eu acho que sim. Tenho compulsão de querer entender o mundo através de pequenos atos. Muita gente acaba se magoando, mas não consigo (e talvez nem queira) ser diferente.
Também não me eximo da chaga da intolerância. Com meu temperamento forte e paixão pelo debate de idéias, vejo muitas vezes pequenas discordâncias terminarem em grandes discussões. O homem é produto do meio e comigo não poderia ser diferente.

PS: a foto do posto é de um monumento em Sevilha em homenagem justamente à Tolerância.